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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 29 de junho de 2017

Pinto Madeira: herói ou vilão? -- por Armando Lopes Rafael


 Preparo-me -- psicologicamente e com dados e pesquisas --  para escrever uma síntese biográfica de Joaquim Pinto Madeira.  Nada mais do que isso: uma síntese! Vários historiadores publicaram relatos – válidos e criteriosos  – sobre a trajetória desse personagem fascinante. Nenhum se preocupou com enquadrá-los na ordem cronológica. Pinto Madeira viveu no Cariri cearense, entre as duas décadas finais do século XVIII  e as três iniciais do século XIX. Por suas ações, ele garantiu um lugar   na história do Cariri, do Ceará e do Brasil.

     Nunca é demais lembrar que, para tentar interpretar as ações ocorridas no passado, necessário se faz reconstituir a realidade histórica da época em que elas aconteceram. Ou seja, devemos situar os fatos pretéritos à mentalidade: maneira de pensar, crenças, valores éticos e morais e até as deficiências materiais vivenciadas pela sociedade de outrora. Interagir com os fatos antigos exige ainda isenção, além da ausência de preconceitos ou paixões. Só assim os que se aventurarem nessa seara poderão ambicionar produzir escritos objetivos  e mais aproximados da verdade histórica.  Infelizmente, os fatos pretéritos, poucas vezes, são descritos na sua extensão plena. Por melhor que sejam narrados, o tempo contribui para esvaecê-los. 


    Quem escrever sobre Pinto Madeira não pode obscurecer que ele cometeu erros e injustiças, nas suas participações em cenários de guerra. Afirmou  George Orwell que "O essencial da guerra é a destruição”. Daí deduzir-se que toda guerra é um semeadouro de violências e ódios, cujos gravames recaem sobre quem a promove. Não será  olvidada, na minha síntese biográfic de Pinto Madeira,  a ferocidade de que o caudilho era dotado. Fereza, aliás, relatada pela maioria dos autores por mim pesquisados.
   
    Também não se podem esconder  as qualidades pessoais do biografado. Dentre elas, a coerência, sinceridade, lealdade e coragem de que era possuidor. Merece ser lembrada, também, a sua religiosidade, um sentimento que o levou a se filiar à Irmandade do Santíssimo Sacramento, da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de Crato, em abril de 1816. Talvez por isso suas últimas palavras – após levar a descarga fatal que o matou – foram palavras da fé  que sempre o guiou em vida:
    – Valha-me o Santíssimo Sacramento!

   Oportuno mencionar uma rara correspondência de Pinto Madeira para sua esposa, dona Maria Francisca, com a firma reconhecida e publicada pelo jornal “Cearense Jacaúna”, nº 18, de 6 de novembro de 1833. Nessa carta, escrita às pressas, informava o infeliz prisioneiro – talvez para levar algum conforto à leal companheira – que da prisão de Recife fora levado para Fernando de Noronha; de Fernando de Noronha trouxeram-no para  o Ceará. E agora estava sendo conduzido ao Maranhão. Acrescentava ele que estava bem; que os oficiais do navio muito o estimavam; mandava lembranças para os amigos próximos e enfatizava: “quem segue a lei de Cristo e de sua Mãe Santíssima nunca se arrepende”...

    A memória de Pinto Madeira – na qual  convivem qualidades e defeitos – merece todo o nosso respeito, sobretudo porque  ele nunca escondeu o que era e o que defendia. Não foi um dissimulado, como muitos contemporâneos do seu tempo...

Um comentário:

  1. Prezado Armando - Suas postagens têm um valor extraordinário. Infelizmente, o publico atual não tem nem interessa ter conhecimento da memoria e historia suas. Um povo que não tem passado também não tem futuro. Não esmoreça por isso, continue postando o tempo vai reconhecer o seu virtuoso trabalho.

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