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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 4 de julho de 2017

Quem é o fundador de Juazeiro do Norte? – por Armando Lopes Rafael (*)

Início de Juazeiro do Norte - 1827, há 190 anos - (tela de Assunção Gonçalves)

Alguns autores insistem, erroneamente, em atribuir ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte. Pelas informações abaixo concluímos que foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, também cratense,  o verdadeiroi fundador do núcleo primitivo, origem da atual cidade de Juazeiro do Norte, incluída hoje entre as 100 maiores do Brasil.

Podemos afirmar, com toda segurança, que Juazeiro do Norte – hoje conhecido no Brasil e  no exterior, graças à figura do Padre Cícero Romão Batista – teve seu início como fruto da devoção à Nossa Senhora das Dores. Pois, a exemplo da maioria das cidades brasileiras de antanho, Juazeiro do Norte também nasceu em torno de um templo católico. A escritora e historiadora Amália Xavier de Oliveira, na plaquete “Conheça o Cariri”, assim descreveu os primórdios desta cidade:

“Os terrenos onde foi fundada a grande cidade que é hoje Juazeiro do Norte pertenciam a um cidadão chamado Leandro Bezerra Monteiro, militante do Exército Nacional, no qual tinha o posto de Brigadeiro. Estes terrenos constituíam uma imensa planície coberta de pastagens férteis e abundantes. Árvores de grande porte formavam densas matas. O proprietário, o Brigadeiro, era possuidor de muitas terras na região; residia no sítio “Moquém” perto do Crato, onde tinha um engenho de fabricar rapadura. Para fazer sua criação de gado, escolheu os terrenos que iam em direção da Serra de São Pedro, hoje Caririaçu.

Havia, naquela planície, uma ligeira elevação do terreno perto da serra Catolé, às margens do rio Salgadinho. Ali, o Brigadeiro construiu a Casa da fazenda, que recebeu o nome de “Tabuleiro Grande”. Ao redor da Casa Grande da fazenda, os escravos foram construindo suas casas; vizinho a casa, construiu um aviamento para a fabricação da farinha de mandioca, de que havia grande cultura nos tabuleiros. Entre as árvores que circundavam o aglomerado de casas dos escravos, havia 3 juazeiros frondosos, de copas quase unidas, formando uma sombra acolhedora. Ali, os transeuntes que viajavam de Missão Velha, Barbalha, São Pedro, indo para a feira do Crato, procuravam abrigar-se. E combinavam: “Vamos botar a baixo (tirar as cargas para repouso) lá nos juazeiros”. Daí a corruptela: vamos descansar no Juazeiro”. 

A mesma pesquisadora Amália Xavier de Oliveira, noutro escrito de sua autoria (“O Padre Cícero que eu conheci”), esclareceu o que motivou a construção da capela na fazenda Tabuleiro Grande:

“Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda, perto da casa já existente”.

 Pelas informações – acima citadas – concluímos que foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o fundador do núcleo primitivo, origem da atual metrópole caririense. Deve-se, inegavelmente,  ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Tabuleiro Grande, depois Joaseiro – com a edificação da Casa Grande, capela, residências para os escravos e agregados da família.

A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. No povoado, à época da chegada do Padre Cícero, residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves. É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.
 Juazeiro do Norte em 2017

(*) Armando Lopes Rafael, historiador e cronista. Sócio do Instituto Cultural do Cariri, Membro Correspondente da Academia de Letras e Artes “Mater Salvatoris” de Salvador (BA) e do Conselho Editorial da revista “A Província”.

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