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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Setembro chegou! – por Armando Lopes Rafael


Neste 1º de setembro a imagem histórica de Nossa Senhora
da Penha percorrerá, em procissão, as ruas centrais de Crato 
Agosto acabou.  Os supersticiosos acreditam que esse mês não traz sorte. Muito pelo contrário, dizem. E lembram que o Brasil vivenciou muitas tragédias, principalmente na área política neste agourento mês... Na verdade essas tragédias só começaram a acontecer após o golpe militar de 1889 que implantou a forma de governo republicana no país. Ora, a República em si já é uma tragédia! Sempre foi. E continua sendo.
  
    O que ocorre é que essas tragédias são sempre lembradas pela mídia, que as divulga em profusão. É o nosso “rosário” de cruzes – de difícil solução – lembrado diariamente, a toda hora, pelos meios de comunicação: rádio, televisão, jornais, revistas, Internet, cinema, whatsApp, replicadas sempre em conjunto com a hipertextualidade (caminhos não lineares de leitura do texto).

    Mas, enfim, setembro chegou!
    Este é um mês ameno e agradável. Tem início, entre nós, com a festa da Rainha e Padroeira de Crato, Nossa Senhora da Penha, celebrada no dia 1º. Setembro é um mês que registra, também, grandes acontecimentos da história pátria. Em 06 de setembro de 1922, através de um decreto do Presidente Epitácio Pessoa (um dos poucos que presidentes da República que a história guardou) foi oficializado o Hino Nacional Brasileiro, embora a letra, escrita por Joaquim Osório Duque Estrada já tivesse sido escrita em 1909. 

    Depois vem 7 de setembro, Dia da Pátria, nossa data maior. Neste dia o Brasil alcançou sua independência política, em 1822, num gesto ousado do Imperador Dom Pedro I. Em 12 de setembro de 1902 nasceu Juscelino Kubitschek, outro dos raríssimos presidentes que passou à história. A rigor o povo não guarda o nome desses presidentes. Terminado o seu mandato de plantão eles entram no rol do esquecimento. Quer uma prova? Tente lembrar o nome de 10 ex-presidentes da República do Brasil, desde que você não inclua Temer, Dilma ou Lula, os últimos. Tentou? Não lembrou? Não se preocupe. Isso acontece com 99% dos brasileiros.

        No dia 18 de setembro de 1822 foi criado, por Dom Pedro I, o Escudo do Império do Brasil. Um brasão oficial muito bonito, ainda hoje venerado por milhões de brasileiros, como nosso o único e verdadeiro emblema. Herança dos tempos imperiais quando “a nossa pátria tinha estabilidade política, administrativa e econômica; quando havia credibilidade do país no exterior; havia dignidade, havia segurança, havia fartura, havia harmonia e seriedade em todos os órgãos da administração pública”. Isso tudo acabou. Hoje vivenciamos a maior crise político-econômica da nossa história, a violência crescente, o desgaste da imagem do Brasil no mundo, a corrupção que generalizada que atingiu a Petrobrás, a Eletrobrás, a Caixa Econômica... o crescimento do consumo das drogas, o caos enfim.

    Mas voltemos ao mês de setembro. No dia 21 é comemorado, entre nós, o Dia da Árvore, com o objetivo principal de conscientização desse importante recurso natural. No dia 23 tem início a Primavera no hemisfério sul, onde está localizado o nosso país. E por aí vai.

    Particularmente, gosto muito do mês de setembro! É o mês da floração dos Ipês (Pau d’Arco, como é chamado no Cariri), sendo que o ipê amarelo deveria ser declarado como “A árvore-símbolo do Brasil”.
           Bem vindo setembro!

Independência ou morte! – por José Luís Lira (*)

    Aos 24 anos incompletos, o jovem Príncipe Regente do Brasil e herdeiro do trono de Portugal, cidadão português, Dom Pedro, que chegara ao Brasil em 1808, aos 10 anos, contrariando seus patrícios, proclamou a independência do Brasil e de Colônia o transformou em Império. Corria o ano de 1822, no dia 7 de setembro, o jovem libertador chegava às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, província que apresentava problemas políticos que fizeram o Príncipe ir até lá apaziguar os ânimos.

   No Rio de Janeiro, cinco dias antes, a Princesa Leopoldina de Áustria, Regente do Brasil, presidiu a reunião do Conselho de Ministros, a 2/09/1822.

    Nesta reunião foi aprovado o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal. A imperatriz enviou uma carta a Dom Pedro, além de comentários de Portugal criticando a atuação do marido e de Dom João VI, exigindo o retorno de Dom Pedro e de sua família a Portugal, o que ele rejeitara antes. Ela, então, exigiu que Pedro proclamasse a Independência do Brasil e, na carta, o advertiu: "O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece". D. Pedro, corajosamente, rompeu os laços que uniam Brasil a Portugal. Doravante, nos tornamos uma nação livre, independente. Passavam-se apenas 322 anos de nossa descoberta e menos de 300 de colonização. Nosso povo já falava a língua que se constitui a última Flor do Lácio, o Português, mas, com tonalidade brasileira. 

   Para celebrar, nossa bandeira foi feita. Musicista que era, o Imperador compôs melodia à letra do poeta Evaristo da Veiga, cujo refrão ainda hoje nos estimula: “Brava Gente Brasileira/ Longe vá, temor servil;/ Ou ficar a Pátria livre,/ Ou morrer pelo Brasil”. O próprio Hino Nacional, em sua estrofe inicial, exalta a grandeza do feito de 1822: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heroico o brado retumbante,/ E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,/ Brilhou no céu da Pátria nesse instante”.

   Com a instauração da República no Brasil, se tratou de ofuscar a História Imperial, criando-se estórias fantasiosas etc. A data de 7 de setembro só voltou a ser comemorada em 1922 para se celebrar o centenário da Independência. Depois, a data caiu no esquecimento. Somente em 1934, o cearense Luís Cavalcante Sucupira (Comendador Sucupira como era conhecido, imortal da Academia Cearense de Letras) deputado à então Assembleia Nacional Constituinte, compondo a Comissão de Educação e Cultura, no dia 6/09/1934, apresentou o Projeto de nº 42, propondo a instituição do Dia da Pátria, 7 de Setembro. 

   O Decreto Presidencial nº 7, de 20/11/1934, assinado por Getúlio Vargas, oficializou a iniciativa do notável deputado cearense e passamos a ter o Dia da Pátria. Raramente vemos desfiles de Colégios e Escolas, também desconheço incentivo aos Hinos da Independência e Nacional em momento algum em sala de aula. Parece só existir quando a Seleção Brasileira de Futebol entra em campo ou outros eventos desportivos ou oficias. Não vivi, fisicamente, os dias do Império, já a República... Ah a República, melhor não comentar. A vontade que dá é de dizer: devolvam a Pátria Amada e gritar: 

“Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil”.
   Viva o Dia da Pátria! Viva aos pais da Pátria Brasileira, especialmente ao Imperador Dom Pedro I e à Imperatriz Dona Leopoldina de Áustria!
 (*) José Luís Lira, advogado. Professor do Curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú. Escritor com vários livros publicados, jornalista, historiador e memorialista.

Várzea-Alegre enciumada - Por Antonio Morais.

O varzealegrense ficou enciumado. Como pode o Pajé Lula da Silva dar preferencia a Cascudo,  um ralé distrito de icó, e, desfeita maior, ir a com licença da palavra "Cedro" isso foi uma desconsideração nunca vista antes. Um desaforo desalmado. 

Não se aperreiem nem se afregelem, em menos de um ano você pode se organizar em comitiva e ir a Curitiba  e num horário de visita está com ele em São José dos Pinhais no xadrez.

Eu acho que foi bom o Lula não ter ido a Várzea-Alegre. Você não sabe o cu de boi que ia ser, o tamanho da briga de foice que ia acontecer. De um lado o prefeito com o seu povo, de outro lado o ex-prefeito com o seu, ali num canto outro ex-prefeito se mostrando no meio da massa, acolá um Zé Mané qualquer se achando, pois pra eles os eleitores são propriedades como gado ferrado no campo. 

E no fim : O prefeito votando em quem Eunício Oliveira manda, os ex-prefeitos votando em Genecías Noronha, Aníbal Gomes, Domingos Neto, Zezinho, Ciro, Cid e na "gomarada" toda. 

Que votos sobrariam, para o Pajé?

E o princípio de igualdade entre os homens, como fica numa Monarquia? O monarca não é um homem superior? (por Armando Lopes Rafael)

Parece que o crescimento dos monarquistas já começa a incomodar a esquerda troglodita brasileira. Esta semana um professor comunista de carteirinha, da Universidade Regional do Cariri–URCA, perdeu a compostura e disse que os “monarquistas brasileiros era um bando de imbecis, que veem num Príncipe um homem superior.

Ledo engano. O professor precisa ler mais sobre a forma de governo monárquica para falar com acerto. Eis o que lemos no livro “O que é Monarquia”, do Prof. Rogério da Silva Tjäder ( este sim, um professor que agrega conhecimentos):

“Todos os homens são essencialmente iguais como membros da sua espécie, mas moral e funcionalmente diferentes em suas atitudes. Apenas é a função de monarca o que torna tal homem diferente. Não como ser humano posto que é igual aos demais, mas como Chefe de Estado, intrínseco da nação. Assim, o cargo, bem como suas atitudes funcionais, são os fatores que diferenciam o monarca dos demais homens e não apenas sua pessoa”.

Imagem: Retrato de Dom Pedro I, Henrique José da Silva, 1825.

Lula, o demagogo contumaz – por Armando Lopes Rafael

   Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Crato nesta 4ª feira, 30 de agosto. Fez comício no estacionamento do Centro de Convenções do Cariri, a 5 km do centro da cidade, para uma plateia que foi convocada no triângulo Crajubar–Crato, Juazeiro do Norte-Barbalha. Para muitos pobres foi a vez de ganhar o sanduíche de mortadela, condução e o outro agradinho de sempre. Exageros à parte, os organizadores do evento calcularam 10 mil pessoas no evento. Vá lá que tenha comparecido a metade. Afinal, a  Polícia Militar não fez previsão do público presente.

   No mesmo dia, o IBGE divulgou a população – estimada para 2017 – do chamado Crajubar: 460 mil habitantes (270 mil em Juazeiro, 130 mil em Crato e 60 mil em Barbalha). Vamos, generosamente, considerar que no comício de Lula estivessem mesmo as 10 mil pessoas, “infladas” pelos organizadores. Significa que 450 mil pessoas, só do Crajubar,  não deram o ar da graça. Mas, na verdade, vieram caravanas dos 32 municípios do sul do Ceará, além de cidades vizinhas do Estado de Pernambuco e da Paraíba. Vamos parar por aqui e acreditar que 4,6% da população de Crato, Juazeiro e Barbalha foram ouvir as demagogias do “Pai dos Pobres”.

    Para indignação da maioria da população cratense, nossas autoridades outorgaram a Lula os títulos de “Doutor Honoris Causa” (aprovado pela URCA há 15 anos e só agora efetivado pelo atual reitor), o de “Cidadão Cratense” (palmas para os nossos vereadores, eles merecem!)  além da Medalha do Mérito Barbara de Alencar.  Lula fez cabelo, bigode e barba! Pouca vergonha!

   Depois foi a vez da verborreia demagógica de sempre. Lula disse, entre outras baboseiras: “Vão vender pedaços da Petrobrás” (não tocou no esquema de propinas que ele implantou naquela estatal – o chamado "Petrolão" que quebrou a empresa – considerado hoje “o maior esquema de corrupção do mundo”); Criticou a mudança no regime de exploração do pré-sal, que foi extinta com a lei da partilha, dizendo que o Brasil  antes era “exportador de gasolina e hoje é importador”. Deslavada mentira!

    Lula condenou o projeto de privatização da Eletrobrás (mas não falou no que os Governos do PT fizeram para roubar os recursos do fundo de pensão dos funcionários daquela estatal, como roubaram, também, os fundos de pensão da Petrobrás, Banco do Brasil, BNDES, Correios, dentre outros. Criticou a venda da Casa da Moeda,  que até a chegada do PT ao poder  dava lucro. Nos dois governos Lula-Dilma passou a ser deficitária com sucessivos prejuízos que aumentam a cada exercício.

     Lula disse que “os golpistas” estão destruindo o Brasil", mas não falou que foi ele, por duas vezes,  que aprovou o nome de Michel Temer para ser vice de Dilma Rousseff. Quem votava em Dilma, automaticamente votava em Temer. E não disse que é constitucional quando um presidente sofre o impeachment o vice assumir no lugar do "impichado". Não houve nenhum "golpe".  Foi por um motivo assim que Itamar Franco assumiu a Presidência da República, substituindo Collor de Melo.

        "Destruindo o Brasil, os golpistas?" Ora, me poupe! Foi no governo Dilma que o desemprego chegou à casa dos 14 milhões de pessoas que perderam seu ganha-pão, ou seja, seus empregos. Lula enganou aos incautos escondendo que foram os governos do PT que aumentaram os gastos e subsídios, gerando um aumento da dívida pública e o endividamento das famílias e trazendo de volta a inflação. Matreiro e falso, Lula omitiu:  foram nos governos do PT que ocasionaram os desvios ora apurados pela Operação Lava Jato, realizada pela Polícia Federal, a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro já realizada no Brasil e no mundo. Essa operação expôs uma rede criminosa formada por políticos, servidores públicos, empresários e doleiros que desviou bilhões de reais dos cofres da Petrobras.

      Enfim, Lula omitiu os frutos deixados por ele e Dilma: desemprego, inflação, caos na saúde, na educação, na segurança pública e a institucionalização da corrupção na máquina pública... tudo isso é uma pequena amostra da “herança maldita” deixada pelos 13 anos de governos do PT, sob a batuta de Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora Dilma Rousseff.

         O resto é demagogia barata para enganar os incautos e desinformados... E como eles existem, nesses grotões da miséria e do atraso; em certa mídia brasileira e, especialmente, nas universidades públicas...
 URCA -- Uma universidade pública, financiada pelos impostos pagos pelo povo cearense, sendo manipulada  política e ideologicamente pelo PT. Como cidadão que obteve diploma universitário pela URCA sinto-me envergonhado.
PS - A Câmara de Vereadores de Quixadá teve a grandeza de rejeitar o título de "Cidadão Quixadaense" para Lula. Ela merece nosso respeito. Já a Câmara de Vereadores de Crato capitulou vergonhosamente. Pobre Crato.

Pedrinho e as pedrinhas - Por Xico Bizerra


Pedrinho, à margem esquerda do rio, joga pedrinhas na água límpida, vendo os peixes amarelos e livres, nadando, ora a favor, ora contra a correnteza, brincando de tudo-pode com a mãe natura. No aquário do pai, um peixe amarelo a se digladiar, esbarrando no vidro quando se aventura num nado maior. Liberdade e clausura dos peixes. Pobre menino que atira pedrinhas no rio e chora pelo não-poder atirar de volta ao rio aquele peixinho amarelo. Pobre peixe amarelo que nada quase nada e esbarra, sem opção de escolher entre o vidro e o rio, entre o vidro e o mar, entre o vidro e a vida. Um gato o observa de longe, esperando um trincar de vidro, um peixe no chão. Do alto de sua gaiola, solidário, o passarinho torce pelo peixe.

Lula volta do nordeste como o João da Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


Há bem pouco tempo houve uma eleição em Várzea-Alegre, cidadezinha do interior do Ceará na qual concorreram dois João.  Um já experiente, ex-prefeito, com o apoio do prefeito à época, do deputado, governador e o diabo a quatro. O outro João um jovem desconhecido do público que acabara de se formar em direito. Contrastando com a tradição da terra não eram dois Raimundo.

Assim como o lixo atrai as moscas o puder atrai os bajuladores. A bajulação é um comércio de mentiras que, pelo lado do bajulador, apóia-se no interesse, e pelo lado do bajulado, apóia-se na vaidade. 

O primeiro João se cercou de bajuladores, e, esse tipo de gente não trás noticia ruim, só as que agradam seu amo. 

Um dia eu vi um deles dizendo para o João : Na comunidade do Rubão tem 30 votos, 23 votam com o senhor. Esqueceu o mensageiro de informar que na localidade  de "Ubaldino de Chico Leandro" tinha 65 votos e 62 votavam contra. 

O resultado daquele pleito de 1996  é fácil de ser lembrado o jovem João ganhou a eleição.

Lula inicia sua campanha escolhendo os lugares por onde  ainda pode andar, embora saiba que existam muitos outros que o desejam um presidio demorado no lugar da presidência. Uma perguntinha : Quando  Lula vai  visitar  Porto Alegre, Florianópolis,  São Paulo, Curitiba?  Essa ultima cidade deve ser  em Julho de 2018.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Congresso tem noite de bar: ‘Não sou nega sua’ - Por Josias de Souza.

Além da falta de ética, a política vive uma crise de compostura. Isso ficou evidente na sessão noturna do Congresso Nacional, nesta terça-feira. O plenário viveu uma noite de boteco. Não um botequim qualquer. Um bar de quinta categoria. O tratamento cerimonioso de ‘Vossa Excelência’ perdeu o sentido. No calor da confusão, uma Excelência era vista por outra como um biltre. E vice-versa. A certa altura, Eunício Oliveira, presidente do Senado e do Congresso, dirigiu-se com a sobriedade de um ébrio a um deputado que o interpelava: “Baixe os dedos, não sou nega sua!”

A sessão reuniu deputados e senadores no plenário da Câmara, que é maior do que o do Senado. Destinava-se à análise de vetos de Michel Temer. Nas sessões ordinárias da Câmara, só com deputados, já é grande a confusão. Com o acréscimo dos senadores, aí mesmo é que a atmosfera conspira a favor das ofensas e dos empurrões, não de decisões sensatas. Os parlamentares ficam em pé, na frente da mesa. É como se não dispusessem de poltronas.

A encrenca começou quando o líder do PDT, Weverton Rocha (MA), pediu a palavra para formular uma ''questão de ordem''. Para usufruir um pouco mais do microfone, ele requisitou o tempo destinado aos líderes, que é mais elástico. Presidia a sessão o segundo vice-presidente do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA). Conspiração dos astros! Os dois são rivais na política maranhense. Weverton é da tribo do governador Flavio Dino (PCdoB). João Alberto é um seguidor devoto do clã Sarney. E a Câmara virou uma espécie de quintal de São Luís.

João Alberto deu de ombros para a solicitação de Weverton, que o acusou de censurá-lo. Outros deputados de oposição solidarizaram-se com o líder do PDT. Grita daqui, empurra dali, Eunício Oliveira (PMDB-CE) acomodou-se na poltrona de presidente. Desatendido, Weverton jogou um exemplar do regimento interno na direção da Mesa. Um grupo de parlamentares marchou em direção a Eunício, para cobrar respeito ao regimento. Agentes da Polícia Legislativa do Senado fizeram um escudo humano para proteger o mandachuva do Congresso da ira dos  congressistas.

Eunício suspendeu a sessão por dez minutos. Na volta, com os ânimos menos exaltados, afirmou não ter medo de gritos, agressões ou cara feia. O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) disse não ter duvida de que o presidente do Congresso não teme cara feia. Do contrário, disse ele, Eunício não suportaria olhar seu próprio reflexo no espelho. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) acusou Eunício de trazer do Senado agentes armados, para “intimidar” os deputados. Coube à senadora Ana Amélia (PP-RS), gaúcha como Pimenta, sair em defesa colega.

Segundo Ana Amélia, os seguranças não fizeram senão assegurar a ordem. Ela recordou uma cena ocorrida no início de julho. Um grupo de senadoras, sob a liderança de Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT de Paulo Pimenta, ocupou a Mesa do Senado. As sublevadas atrasaram por quase oito horas a votação da reforma trabalhista de Michel Temer. Eunício chegou a cortar a luz do plenário. “O Brasil inteiro se deparou com a cena dantesca”, enfatizou Ana Amélia.

Numa época em que congressistas trazem códigos de barras na lapela e comercializam seus votos à luz do dia, as confusões do plenário apenas adicionam à crise moral elementos de uma crise de compostura. A diferença entre o boteco e o Congresso é que na mesa de bar os bêbados pagam do próprio bolso a bebida que entorta a prosa. No Legislativo, é o Tesouro Nacional que financia tudo —do salário ao cafezinho. No botequim, de resto, o álcool sai na urina. No Congresso, se os resíduos verbais fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Lula, inspeciona o sertão nosdestino depois de 13 anos de seu dominio desastroso - Postado por Antonio Morais.


Uma mão pequena e tímida toca ao portão.
Um pão dormido satisfaz a suja mão.
O adolescente segue de porta achando que é gente, que é cidadão.
Acha que é merecedor da pena que carrega.
O céu só o quer sob o signo do sofrimento.
Deus, o recompensa, pensa.
Estamos em Setembro.
É o verão, e o verão todos meses terríveis.
O sertanejo olha para o céu e se lenitiva.
Dois instantes de amargura.
O silencio no campo poeirento amedronta.
Os demônios descansam e os santos ressoam.
Nenhum som de trovão, de cachoeira e nem mesmo de goteira.
Balança-se a rede e a criança resmunga, pensando que é gente, que é cidadã. Resmungar vai ser sempre sua fala. 
O velho fuma cachimbo dá-lha a impressão de ser gente.
É um cidadão.
Olha o olho do sol e lagrimeja.
Vê as coisas deformadas, como todas as coisas que lhe ensinaram, em toda sua vida, os pais, os padres, os pastores e os políticos.
Reza, pede, resmunga e sonha.
Seu sonho lhe dá vida que desperto não tem. Este é um pouco do cenário do inicio do verão do sertão do nordeste.

José de Morais Brito

O próprio Lula deve ter percebido isso - Por Josias de Souza.

“Hoje, sem condições de fornecer explicações críveis sobre os episódios inacreditáveis em que se meteu, Lula encolhe. 

Sua retórica, baseada no ódio à força-tarefa da Lava Jato, cabe numa caixa de fósforos. Seu prestígio, tisnado por seis ações penais e uma condenação, cabe nos 30% do eleitorado que tradicionalmente pende para o PT. 

Ainda em dúvida sobre o que vai ser quando terminar de decrescer — se presidiário ou presidenciável— Lula realiza uma viagem ao passado.

Ao final de sua caravana de 18 dias, Lula terá percorrido 25 cidades de nove Estados nordestinos. E perceberá que, petrificado, viajou de volta para suas origens sem sair do lugar. Notará que campanha política não absolve um réu em seis ações penais, assim como uma condenação de 9 anos e meio de cadeia não elege um presidente.


Pedido de suspeição contra Gilmar irá a plenário - Por Josias de Souza.

A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, sinalizou a pelo menos um de seus colegas a intenção de submeter ao plenário da Corte a apreciação do pedido de suspeição feito pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Gilmar Mendes. Nesta segunda-feira, Cármen enviou a Gilmar ofício convidando-o a apresentar defesa escrita.

Em seu pedido, o procurador-geral pede que Gilmar seja impedido de atuar no processo que envolve o empresário de ônibus Jacob Barata Filho, suspeito de pagar propinas para obter contratos junto ao governo do Rio de Janeiro. Cármen Lúcia ficou numa toga justa. Gilmar é padrinho de casamento da filha do investigado. Chama-se Beatriz Barata. Casou-se com um sobrinho de Guiomar Mendes, mulher de Gilmar.

Alheio às circunstâncias, Gilmar mandou soltar Barata Filho duas vezes na semana passada. O personagem estava preso por ordem do juiz Marcelo Bretas, que cuida da Lava Jato no Rio. Há no Supremo um outro pedido de suspeição contra Gilmar. Nele, o procurador-geral sustenta que o ministro não pode atuar também no processo estrelado por Eike Batista. Solto por Gilmar, Eike é defendido na Lava Jato por um escritório de advocacia onde trabalha Guiomar, a mulher do ministro.

Sem a justa ira dos inocentes - Por Ricardo Noblat

Renan Calheiros é golpista. Um “velho golpista”. De acordo com o PT, golpista é aquele que por voto, palavras e obras apoiou a queda da ex-presidente Dilma. Foi o caso de Renan.

O “novo golpista” torce para que Lula seja impedido pela Justiça de disputar a eleição presidencial do próximo ano. Não é o caso de Renan. Que deseja Lula candidato esbelto e forte para beneficiar-se dos seus votos.

Por favor, não esqueçam, suplicou Renan outro dia: ele sempre foi de esquerda. Ele é Renan. Lula, não. Jamais foi de esquerda. Valeu-se dela para fundar o PT. Serviu-se dela para chegar ao poder.

E uma vez lá, governou com as elites que antes amaldiçoava. Que hoje amaldiçoa na tentativa de não perder a simpatia dos mais pobres. Lula é o que foi sempre: um irresponsável manipulador de palavras e de sentimentos.

O encontro dos réus Lula e Renan marcou a passagem por Alagoas na semana passada da caravana do mais ilustre alvo da Lava Jato.  Renan não discursou com medo de ser vaiado. Queria livrar-se, e ao visitante, do constrangimento.

Mesmo assim foi vaiado e fingiu que não era com ele. Lula encantou os que queriam ouvi-lo e tocá-lo como se fosse um demiurgo. Provou que está em boa forma. 

Ameaçado de não se reeleger senador, Renan afastou-se do governo impopular de Michel Temer para colar-se de vez a Lula. Exagero: de vez, não, apenas o necessário.

Lula acolheu-o como se Renan não tivesse atraiçoado Dilma. “Renan pode ter todos os defeitos, mas ajudou meu governo”, disse Lula. Quanto ao fato de Renan responder a 14 processos, Lula afirmou que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”.

Como demonstrado, ajudar Lula a governar é condição essencial para ser absolvido por ele de qualquer pecado. A máxima de que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário” não passa de uma frase vazia na boca de Lula.

O Supremo Tribunal Federal considerou o mensalão do PT um “atentado contra a democracia”. E condenou os mensaleiros à prisão. Lula prefere seguir negando que o mensalão existiu.

A quem cabe provar que um suposto inocente é culpado? Nas democracias, à Justiça. No mundo onde Lula faz e aplica suas próprias leis, cabe a ele. 

Se Lula reconhecesse a autoridade da Justiça seria obrigado a render-se à realidade de que seu governo foi corrupto e legou a Dilma uma pesada herança de corrupção. Como, pois, ficaria se a Justiça, mais tarde, o condenasse? A última palavra é dele.

Nas penitenciárias, ensina o médico Dráuzio Varella, só existe gente inocente. Ninguém, ali, cometeu crime algum. Todos são vítimas de injustiças. Na política, como nas penitenciárias.

O Congresso, mas não só, é um imenso Carandiru, depósito de imaculados. Os porões dos palácios em Brasília são locais de orações e de reflexão. A Lava Jato é uma máquina de moer santas reputações. E Lula... Ora, Lula...

É o santo padroeiro dos que querem emparedar a Lava Jato, remeter o combate à corrupção para o inferno e manter tudo como está. Nunca antes na história do país alguém detratou a Justiça com a desenvoltura e a desfaçatez exibidas por Lula.

Sua viagem de 20 dias a 25 cidades de nove Estados do Nordeste tem servido para que ele ataque com virulência “os canalhas” da toga, como fez em João Pessoa no último fim de semana.

Lula fala para os convertidos. Ao fim e ao cabo, carece da justa ira dos inocentes e dos perseguidos.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Gilmar Mendes “viola grosseiramente a lei”.


É o que diz Conrado Hubner Mendes, professor de Direito Constitucional da USP.

“É de responsabilidade do Supremo impor limites a conduta de cada um de seus membros. Pode ser um momento decisivo para o Supremo demonstrar que existe um colegiado que não se intimida pela truculência e libertinagem de um de seus membros, demonstrar que a sobrevivência institucional é mais importante do que o coleguismo cordial entre seus membros. Se continuarem a calar diante dos abusos de Gilmar Mendes, podem ir ladeira abaixo de mãos dadas com ele”.

“Se todos os ministros se renderam ao individualismo, e praticamente todos se renderam ao vedetismo, Gilmar é provavelmente o único a entrar de cabeça na competição política. Faz consultoria jurídica do impeachment em reuniões palacianas, agora orienta Temer sobre o que chama de semi-presidencialismo, participa de convescotes partidários, faz articulação política ao receber e fazer telefonemas a deputados e senadores para pedir apoio a projetos legislativos. Viaja em companhia de políticos, convida políticos para solenidades que organiza em faculdade de direito de sua propriedade, faculdade que sobrevive pela venda de cursos ao próprio poder público. Seus tentáculos estão espalhados por todo lado. 

A conduta de Gilmar Mendes rompe qualquer padrão de decoro judicial. É promíscua e patrimonialista. Difícil entender como normalizamos isso. Ele viola grosseiramente a lei, e não há razão republicana que explique a deferência ou tolerância com a qual a presidente do STF e os outros ministros o tratam.”

Tasso Jereissati: “Esperavam mais de nós”

Aplaudido pelo público, mas atacado por tucanos, o presidente da sigla afirma que o sistema político faliu e admite ter até vergonha de dizer que é senador
Fonte: revista VEJA -- Por Thaís Oyama 
 Tasso Jereissati, senador (Cristiano Mariz/VEJA)

Governador do Ceará por três vezes, senador no segundo mandato e agora presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati admite que, como todo político dotado de ouvidos, já percebeu que fora das fronteiras de seus gabinetes a categoria não vem agradando faz tempo. Há dois meses, quando o presidente Michel Temer foi denunciado por corrupção, Jereissati defendeu o desembarque dos tucanos do governo — foi voto vencido. 

Duas semanas atrás, bancou um vídeo em que o PSDB admite ter aderido a práticas fisiológicas e “defendido o indefensável”. A autocrítica foi um sucesso de público (o filme teve mais de 1 milhão de visualizações nas redes sociais), mas deixou furiosos tucanos que consideraram o filmete um sincericídio não autorizado da parte de Jereissati. Não é coincidência que as reações mais violentas tenham vindo dos ministros que mais apreço têm demonstrado por seu cargo no governo de Temer. Aos colegas que cogitaram pedir sua renúncia, o senador avisou: vai fincar pé na interinidade, pois acha que o PSDB tem conserto e que ele pode ajudar a restaurar a confiança que tantos já perderam no partido. O tucano falou a VEJA em seu gabinete, no Senado Federal.

No hoje famoso vídeo em que o PSDB admite que errou, fala-se dos escândalos de corrupção que “abalaram a confiança do nosso povo”. O envolvimento dos principais tucanos na Lava Jato foi o que mais afetou a imagem do partido? Tudo afetou, a Lava Jato afetou. Mas o que quisemos mostrar no programa quando falamos do “presidencialismo de cooptação”, essa expressão que irritou tanta gente, foi que vivemos no Brasil um sistema político falido, que quebrou e precisa ser substituído. E faz parte desse presidencialismo de cooptação a disputa por cargos, por poder, por mais espaço na política — práticas que volta e meia acabam dando em corrupção. A nossa autocrítica foi de que acabamos agindo como se a política fosse assim mesmo. Ficamos de braços cruzados nesse cenário, às vezes até nos misturando com ele.

Não apenas se misturando como participando dele, segundo a L­­ava Jato. Afinal, Aécio Neves responde a cinco inquéritos no Supremo, José Serra responde a um e Geraldo Alckmin corre o risco de responder a inquérito no STJ. Tivemos problemas, sim, e esses problemas nos afetam seriamente. Agora, achamos que todos esses que têm problemas vão se defender, já estão se defendendo para provar a sua inocência. É o que a gente espera. Mas não posso negar que esses problemas nos afetaram seriamente. Isso é perceptível nas manifestações da população.

O que o senhor ouve das pessoas? Ouço uma indignação muito grande em relação à questão da Lava Jato e à falta de espírito público dos políticos, cada qual cuidando de si. Com tantos problemas na saúde, na educação, tantos desempregados, só cuidamos de nós, só pensamos em nós — é assim que somos vistos.

O senhor se refere aos tucanos ou aos políticos em geral? Existe essa má vontade para com os políticos em geral e com os tucanos em especial, porque as pessoas acreditavam mais no PSDB. O PSDB era um partido diferente. As pessoas esperavam mais de nós. E, quanto mais se espera, maior é a decepção quando a resposta vem diferente. E a decepção pode até virar ressentimento. Isso tudo está constatado. Infelizmente, chegamos ao nosso pior nível de aprovação. Mas vamos reconquistar essa confiança. Agora, sobre a classe política em geral, em qualquer roda de botequim, churrasco, fim de semana com a família, você vai ouvir a mesma coisa: que os políticos são horrorosos, que não prestam, que são todos iguais. E todos nós reconhecemos isso.

Reconhecem? Todos aqui (refere-se ao Congresso) comentam. Todos, sem exceção, sentem esse clima. Há 100% de acordo entre nós quando o assunto é esse. “Poxa, nossa imagem está péssima e tal.” Só que ninguém faz nada para corrigir. Não é possível que 80% da população nos rejeite e isso seja culpa da imprensa e dos procuradores — acho até que existem alguns exageros por parte do Ministério Público, mas isso não é o principal. Há alguma coisa errada conosco. Então, nós, no PSDB, quisemos dar uma parada e começar um processo de avaliação e rediscussão — como retomar os nossos princípios básicos, de postura, de ética, de honestidade, de responsabilidade fiscal, de respeito aos recursos públicos. Resolvemos pensar quando nós nos desviamos desses princípios e olhar para o futuro.

O senhor acha possível fazer essa rediscussão ética estando num governo em que o presidente foi denunciado por corrupção e oito ministros são investigados pela mesma acusação? Olhe, eu não me preparei para ser presidente do partido, foi uma crise que gerou essa situação, e eu de repente tive de assumir. Essa discussão de ficar ou não no governo veio no contexto daquela ideia mais antiga de fazer uma autocrítica no partido, não veio solta. Eu e um grupo de deputados, senadores, lideranças achamos que era incompatível partir para uma grande discussão interna estando dentro desse governo — isso tiraria nossa liberdade de ter uma agenda própria. Nosso objetivo é fazer a agenda do partido. Quem está no governo quer fazer a agenda do governo, agenda que nem sempre, ou na maioria das vezes, é a mesma do partido. Então, as duas agendas iriam se chocar. A questão não era partir para a oposição, na linha do PT, gritar “fora, Temer” e votar contra as reformas. Pelo contrário: era sair para continuar aprovando todas aquelas reformas que até fazem parte do nosso programa e ficar livre para fazer a nossa agenda sem ser contaminado — e essa palavra vai me causar problemas de novo — pelo fato de ser governo. Defendi, como outros defenderam, que nós deveríamos sair do governo.

Mas o PSDB não quis entregar os ministérios que tem no governo. Essa ideia não prevaleceu. Temos grandes nomes lá, fazendo um belo trabalho para o governo Temer, e muita gente achou que não fazia sentido pedir a esses nomes que se retirassem. Prevaleceu a ideia de que esses ministros, dependendo do interesse deles e do próprio presidente, deveriam continuar. Foi isso que prevaleceu, e agora eu considero essa história uma página virada. E vamos seguir com a nossa agenda, de maneira independente.

É um desfecho insatisfatório, na sua opinião? Infelizmente, a gente nem sempre consegue fazer as coisas da forma que acha melhor, mas da forma que é possível. E hoje a situação que nós podemos ter é essa.

Voltando ao vídeo, ele suscitou reações positivas também, além das críticas de integrantes do seu partido? Muitas! Nunca recebemos tantas menções no Facebook nem tantos acessos no YouTube. O filme bateu todos os recordes de propaganda eleitoral. Conseguimos o sonho de qualquer partido, que é ter sua propaganda vista. Outra coisa ótima que aconteceu: muita gente que tinha abandonado o partido está voltando — basicamente todos os economistas, intelectuais, sociólogos que fizeram parte da fundação do partido pediram uma reunião comigo porque querem participar dessa discussão agora.

O senhor tem sido abordado na rua? Sim, até isso está acontecendo. E olhe que eu não apareço no vídeo. Talvez as pessoas me reconhecessem antes, mas não falavam comigo. Agora elas vêm, me dão parabéns: “Até que enfim alguém reconhece que errou”. Mas sinto que têm certa desconfiança: “Será que é para valer?”. Então, é uma responsabilidade muito grande a que temos agora. Tem de dar certo. Eu tenho de fazer com que as coisas aconteçam. E me anima muito contar com tanta gente boa, de qualidade, querendo participar do debate. Edmar Bacha, Gustavo Franco, Elena Landau, Pérsio Arida. Mas outra razão de eu estar tão disposto é ver a quantidade enorme de jovens dentro do partido com vontade de mudar e que podem representar isso tudo que a população está querendo. Não desconsidero nenhuma parte do partido, dispomos de grandes quadros, mas devemos reconhecer que temos uma geração que vem entendendo melhor o que a sociedade quer e o que nos distancia dela.

Disseram que a iniciativa do programa se deve ao seu desejo de se candidatar à Presidência da República em 2018. O senhor tem essa vontade? Nenhuma. Com toda a franqueza, olhando aqui nos seus olhos, eu digo: nenhuma. Não serei candidato nem à presidência do meu partido. Nós temos aqui uma agenda até dezembro, e estou convicto de que só posso levá-la adiante se não for candidato a nada — nem à presidência do meu partido, quanto mais à Presidência da República. Agora, a esse processo de interinidade até dezembro eu não renuncio. Primeiro, porque me foi dada essa incumbência. Depois, porque eu tenho certeza de que estou fazendo o melhor pelo meu partido. Não tenho a menor dúvida disso. Mas sou interino, e acidentes podem acontecer. Ninguém precisa me pressionar. Há um presidente efetivo (Aécio Neves), e ele pode tomar essa decisão com uma simples canetada.

Doria ou Alckmin em 2018? São dois ótimos nomes que o nosso partido tem. Geraldo Alckmin é o governador de São Paulo e faz uma gestão de enorme sucesso. O João Doria teve uma eleição histórica na prefeitura da cidade ao ganhar no primeiro turno e num clima como esse. E há outros nomes que podem ser candidatos também. Mas, se não tivermos uma solução de consenso no partido — e eu, como presidente, não tenho nenhuma definição tomada —, iremos para uma prévia. E o calendário está mantido: será até dezembro.

Doria disse que não participará de prévias. É uma opção dele.

O senhor é político há mais de trinta anos. Tem orgulho disso? Vou dizer uma coisa sinceramente: hoje, nem tanto. Já tive momentos de muito orgulho. Até porque fui governador do meu estado, e ser governador é sempre uma honra. Noto que as pessoas tendem a separar o político que ocupa cargos no Executivo — o governador, o prefeito — dos “políticos de Brasília”. Claro que os segundos levam a pior. Percebo uma mudança em relação aos primeiros anos em que fui senador. Você chegava a qualquer ambiente e sentia que o mandato inspirava respeito, era um sinal de prestígio. Hoje não é assim. Em alguns lugares a que você chega — meus pares que me perdoem, mas acontece comigo também, e por isso eu relato —, você até evita dizer que é senador.

Mas o senhor consegue escapar de ser reconhecido? Sim. Outro dia, fui a um hospital em São Paulo visitar uma pessoa. Cheguei a uma sala em que estavam falando de políticos, descendo a lenha. Não me reconheceram e confesso que não falei nada, saí de fininho. Vejo muitas histórias como essa. O que acho impressionante é que a gente discute isso todo dia e, quando bota na televisão, o pessoal fica indignado.

Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2017, edição nº 2545

Não é só a URCA que homenageará Lula na próxima 4ª feira. Prefeitura de Crato também aderiu


Fonte: O POVO, 28-08-2017.
As maiores cidades do Ceará (Fortaleza, Maracanaú, Caucaia, Juazeiro do Norte e Sobral) ficaram fora do roteiro. Visitas só a cidades de médio porte

O ex-presidente Lula (PT) chega ao Ceará amanhã, iniciando caravana pelo Estado no município de Quixeré, localizado no Vale do Jaguaribe. Até quarta-feira, 30, ele fará paradas em pelo menos quatro cidades cearenses e passará por outras nove no trajeto. Presença de Camilo Santana (PT) ainda não é certa porque, embora líderes petistas deem como certa sua participação, a assessoria do governador não confirmou agenda até a noite de ontem.

Durante os dois dias, Lula fará paradas para atos públicos em quatro cidades: Quixeré (Posto do Capricho), Morada Nova (Posto do Ubiratan), Quixadá (Praça José de Barros) e Crato (Centro de Convenções do Cariri). Nesta última, ele receberá a Medalha Bárbara de Alencar e o título de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri (Urca), além do título de cidadania de alguns municípios da região.

Raimundo Correia Ferreira e a Rádio Cultura de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.

Foto - Raimundo Correia Ferreira, filho ilustre de Várzea-Alegre.

Em 1994, eu era superintendente do Banco Comercial - Bancesa agência de Juazeiro do Norte. Recebi a visita do nobre  conterrâneo e ilustre empresário Raimundo Correia Ferreira.

Ele me cumprimentou fazendo uma pergunta : Eu sei que mãe Zefa não existe mais, mas, no Sanharol ainda fazem um Pão de Arroz como ela fazia? 

Eu respondi : Tentam.

Ele vinha tratar  de um aval que dera para um amigo que estava com dificuldades de liquidez.

Passou a contar porque se desfez da "Rádio Cultura" localizada  na  cidade cearense de Várzea-Alegre. Quando resolveu instalar recebeu todo o apoio do prefeito que através da prefeitura cedeu um prédio.

No aniversario da rádio,  no Creva - Clube Recreativo de Várzea-Alegre Raimundo Ferreira contratou a "Banda Mastruz com Leite", a mais prestigiada do momento, o que de melhor havia. 

Como a Rádio era batizada de Cultura, o empresário levou para apresentar ao público outras atrações como a "Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto  de Crato".  No melhor  momento da festa ou seja do "Mastruz com Leite" ele  subiu ao palco, mandou parar a música e anunciou a apresentação dos "Irmãos Aniceto". 

Levou do publico presente a maior vaia já vista a um ser humano. Se retirou  do local e foi na casa do atual proprietário e disse : A Rádio é sua. 

Palavras do Raimundo Correia Ferreira, ele me contou essa história sem que eu lhe perguntasse. Se houver controvérsia não é de minha parte. 

Os pixulecos de Lula - Por Mary Zaidan.

Pronto. Não há mais dúvidas: José Sarney e Renan Calheiros são essenciais para o sucesso de um governo. Essa foi a mensagem do ex Lula em entrevista a emissoras de rádio de Pernambuco, ponto de parada de sua caravana de campanha pelo Nordeste. Alegria pura para o neolulista Renan, acossado por 13 inquéritos e réu em um deles.

No Recife, sem qualquer pudor de exibir a sua farsa, Lula convocou a esquerda para eleger mais deputados, incluindo aí o PCdoB, o PSOL, o PSTU e “a esquerda do PMDB”.

Renan, um dos algozes da presidente deposta Dilma Rousseff, pupila de Lula, se imagina líder dessa facção opositora ao impopular peemedebista Michel Temer, a quem jurou lealdade na solenidade de posse com um inesquecível “tamo juntos”.

Ao se reaproximar de Lula, o senador alagoano apenas repete o seu conhecido drible. Não para definir a partida, mas para se manter na área de quem paga mais ou tem alguma chance de vencer a peleja.

Foi o principal líder de Fernando Collor e abandonou o chefe pouco antes do impeachment. Aderiu a Fernando Henrique Cardoso, assumindo o Ministério da Justiça, para desespero do então governador de São Paulo, Mario Covas, a quem o camaleão Calheiros jamais enganou. De FHC para Lula foi um pulo. Manteve-se fiel também a Dilma até que a popularidade dela despencou.

Batalhou pelo expurgo da afilhada de Lula, mas, sendo Renan, teve protagonismo na esdrúxula decisão inconstitucional de manter os direitos políticos da presidente afastada.

Em um átimo saltou para Temer; agora para os braços de Lula. E, se a tese colar, assume a liderança anti-Temer com a charmosa nomenclatura de “esquerda do PMDB”, adorno criado por Lula, expert em utilizar o verbete esquerda e dele se beneficiar.

O mais incrível é não haver qualquer reação dos reais ideólogos de esquerda – se é que eles ainda existem – à banalização não só do vocábulo, mas do pensamento que se imaginava liberto e progressista.

Desde sempre Lula conferiu à esquerda os significados que desejou e os mais apropriados para cada momento, usando-a a seu bem prazer, sem que isso causasse qualquer estranheza.

Embora reincidente – colocou-se ao lado de Paulo Maluf para eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo e associou-se a Collor --, vê-lo hoje, sem a desculpa da “governabilidade”, incluir Sarney e avalizar Renan entre os peemedebistas de esquerda ainda na fase de pré-campanha desafia até o mais criativo dos surrealistas.

Ainda que possa surtir efeito futuro – o que é duvidoso - a tática de afago agride a sua própria turma.

Em um só lance Lula desagradou fiéis e aliados do Nordeste e fora dele. Em Alagoas, virou fiador do grupo de Renan, odiado pelos petistas e pela “esquerda” que o ex diz querer atrair. Em Pernambuco, conseguiu atiçar a rivalidade entre o PSB e o PT. E no Maranhão, onde a caravana ainda não chegou, já causa desconforto ao time do governador Flávio Dino (PCdoB), que se elegeu em oposição ao clã Sarney.

Acostumado com o sorriso da sorte, desta vez Lula deu azar. Na sexta-feira, mesmo dia em que acariciou publicamente Sarney e Renan, os dois foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República, (Renan pela 14ª vez), obrigando o ex à incômoda comparação de ambos a ele – “se eu quero pra mim a inocência até que se prove o contrário eu tenho que querer para os outros também”.

Com discurso batido, repetitivo, cuja atratividade depende quase que exclusivamente de arroubos verbais, Lula tem feito enorme esforço para reinventar sua liderança de massas, hoje reduzida a grupos de fiéis, anos-luz de distância das multidões que já teve a seus pés, que imaginara e gostaria de reeditar.

Enquanto tenta, Lula – réu em cinco ações penais e condenado em uma delas – iguala-se aos seus: estufa os egos de gente como Sarney e Renan, mais palatáveis como pixulecos infláveis do que como representantes do povo.

domingo, 27 de agosto de 2017

Corruptor Doutor – por Jota Alcides (*)

Artigo publicado no site “Juanorte”, em 27-08-2017.

   É uma ofensa à moralidade pública brasileira e à dignidade do povo caririense, o que promete fazer a Urca-Universidade Regional do Cariri, nesta quarta-feira (30), em Crato. Sem sensatez, sem escrúpulo, sem moral, sem ética e sem vergonha. Você seria professor ou estudante de uma Universidade assim, tão indecente e indecorosa? A Urca vai entregar o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula da Silva, condenado pela Justiça como corrupto chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos do Brasil, deixando o País na maior e mais grave crise de sua história.

   Enquanto importantes instituições estrangeiras, como a Universidade de Coimbra, Portugal, estão arrependidas e mobilizadas para cassação de semelhante diploma concedido a Lula, enquanto a Justiça proíbe a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia de homenagear Lula da mesma maneira, a Urca faz exatamente o contrário, sujando para sempre sua história e virando lixo da história. Na Bahia, a cerimônia estava prevista para dia 18 passado, mas o juiz Evandro dos Reis decidiu suspendê-la após ação popular impetrada, determinando que ela não seja realizada em nenhuma outra data.

    Em sua decisão, o juiz argumentou que a concessão do título de Doutor Honoris Causa a Lula é uma ofensa á moralidade pública e administrativa do País. Em caravana pelos Estados do Nordeste, fazendo campanha antecipada para tentar voltar à Presidência da República em 2018, Lula fez um ato de protesto contra a decisão judicial em frente à Universidade lembrando que já recebeu 28 títulos universitários depois de deixar o Governo do Brasil: "Talvez tenha sido o único presidente que não teve diploma. Mas eu sou o que tem mais títulos de doutor honoris causa na história do Brasil". Infelizmente, como já observou o escritor e romancista Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010, Lula enganou todo mundo, no Brasil e no exterior, e agora a sociedade brasileira tenta purificar a democracia.

   Nesse sentido, o juiz da Bahia foi bem explícito dizendo que a honraria aprovada pela Universidade ao ex-presidente Lula é uma agressão à moralidade administrava e à Constituição brasileira: "O artigo XXIII, da Carta Política, tem como matriz a preservação do patrimônio público onde nele repousa o de cunho moral". Ora, o ex-presidente Lula é um condenado por corrupção tendo praticado vários ilícitos comprovados pela Operação Lava-Jato. Já condenado a 9 anos e seis meses de prisão é Réu ainda em vários processos em andamento, Lula pode ser preso a qualquer momento. Chamá-lo de corrupto, portanto, não se trata de uma opinião, mas de uma constatação da Justiça.

    Pelas delações premiadas da Lava-Jato, durante seu Governo, Lula recebeu propina mensal de R$ 50 milhões da Odebrecht em conta no exterior e R$ 70 milhões mensais da JBS também em conta no exterior. Isso ainda não foi comprovado porque a conta no exterior não era em nome de Lula, mas em nome das próprias empresas. Segundo os delatores, quando Lula queria dinheiro, os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega entravam no circuito, as empresas convertiam o valor desejado em reais dos dólares mantidos no exterior, repassavam para os ex-ministros que entregavam a propina pessoalmente a Lula, tudo sem nenhum recibo.

   Além disso, durante os oito anos de seu Governo, Lula acertou para a Odebrecht a pagar R$ 5 mil mensais de mesada ao seu irmão Chico. Tudo isso em troca de favores do Governo às empresas. Desse modo, Lula pode ser o presidente campeão de títulos de Universidades, como ele diz, mas também é o presidente campeão de propinas. Sem falar no Mensalão do PT, que ele comandou comprando votos de deputados e senadores no Congresso para aprovação de projetos do Governo. Dessa forma, Lula proporcionou o Mensalão e o Petrolão, os dois maiores escândalos de corrupção do mundo. 

   Mas ele não se emenda, nem se perturba. Pelo contrário, neste momento, está em a caravana eleitoral pelo Nordeste, onde pretende novamente enganar o povo, menos um chargista que fez uma ilustração de jornal com Lula aparecendo cercado de jumentos de verdade e a legenda: "Lula assediado por eleitores". Por tudo isso, é um constrangimento público o que está programado para acontecer na Universidade Regional do Cariri-Urca.

   É uma imoralidade o que está fazendo a Urca que deveria ter como apanágio a transmissão da verdade, das boas práticas administrativas, da competência e da transparência e não a honraria à corrupção e a um corrupto condenado pela Justiça. É preciso que o povo do Cariri reaja contra isso lembrando Martin Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”. Não pode haver silêncio dos caririenses diante dessa premiação da iniquidade e dessa degeneração moral.

   Ainda dá tempo aos que são contra essa imoralidade da Urca entrar na Justiça e conseguirem a suspensão desse título. Estudantes e professores da Urca poderiam seguir o exemplo dos estudantes da Universidade de Coimbra colocando na frente da Urca uma faixa com os mesmos dizeres que chocaram Coimbra: "Lula, o burro que rouba vira doutor".

(*) Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "O Recife - Berço Brasílico" e "Marquês do Recife".

Cármen Lúcia: ação ou desmoralização - Por Helder Caldeira.


Repousa ao colo da mineira Cármen Lúcia o destino da Justiça neste quinhão tupiniquim do planeta Terra.

A ministra corre o risco de assistir ao seu mandato na Presidência do Supremo Tribunal Federal transformado numa barafunda de abusos hostis e ilegalidades flagrantes. Poucas vezes a Constituição e a Democracia foram tão vilipendiadas.

Ou Cármen Lúcia  age rápido e impõe um ‘freio de arrumação’ no STF — em especial no descontrolado ministro Gilmar Mendes —, ou teremos a mais alta Corte do Poder Judiciário do Brasil consagrada à história como um circo de palhaços enlutados.

O pregador corrupto junta menos gente que beato aprendiz - Por Augusto Nunes.

Depois da Lava Jato, nem plateias alugadas têm estômago para aplaudir a passagem da caravana de Lula

Para castigar o adversário cujo comício fora um fracasso de público, Jânio Quadros vivia sacando do coldre a imagem ferina: “Se ficar cinco minutos batendo lata no Viaduto do Chá eu junto mais de cinco mil transeuntes”. Se estivesse vivo para ver a caravana de Lula zanzando pelo Nordeste em busca da impossível exumação da popularidade assassinada, Jânio provavelmente diria que até um beato em início de carreira juntaria mais devotos que a procissão puxada por almas penadas que uivam e gemem no purgatório da Lava Jato.

O fiasco da peregrinação eleitoreira concebida por Lula era tão previsível quanto a mudança das estações do ano. Depois da condenação a nove anos e meio de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção, nem mesmo plateias alugadas têm estômago para aplaudir a ópera-bufa estrelada pelo pregador de picadeiro. O roteiro não muda. Cercado de prontuários companheiros, o gigolô dos crédulos e desinformados aparece caprichando na pose de perseguido ou rosnando com subordinados, recebe um título de doutor honoris causa, é entrevistado por uma emissora de rádio, garante que voltará ao Planalto em 2018, recolhe a lona e segue em frente.

Durante a passagem pela cidade incluída no circuito, aproveita todas as escalas para agarrar um microfone e torturar a verdade com selvageria. Promete acabar com a roubalheira que institucionalizou, culpa o vice que escolheu para completar a chapa de Dilma por todos os pecados cometidos pela sucessora que inventou, cumprimenta-se por ter inaugurado um Brasil Maravilha que jamais existiu e debita as incontáveis desgraças que produziu em parceria com Dilma na conta de uma entidade onipresente e misteriosa: eles.

Num país menos primitivo politicamente, a caravana seria ignorada pela imprensa. No Brasil, jornais despacham “enviados especiais” para a cobertura dessa irrelevância jornalística. O cortejo do que resta da seita lulopetista rima com carpideiras, cantadores de incelenças e outras singularidades nordestinas que abrandam o sofrimento das famílias dos mortos ou ainda agonizantes. Não é coisa para repórteres. Na etapa alagoana, por exemplo, a grande notícia foi o encontro entre Lula e Renan Calheiros.

As legendas das fotos que mostravam Renan abraçado a Lula informaram que aquilo era “uma troca de afagos”. Conversa fiada. O que o Brasil decente viu foi a confraternização de processos e inquéritos que somam 18 casos de polícia - 12 protagonizados por Renan, seis por Lula. Por enquanto.

sábado, 26 de agosto de 2017

QUEM NÃO GOSTA DE LER HISTÓRIAS SOBRE SINHÔ PEREIRA E LUIZ PADRE? - Por Marcos Oliveira Damasceno


De acordo com a maioria dos autores sobre o tema, a expressão “cangaço” deriva-se de “canga”, peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Os cangaceiros usavam verdadeiras cangas no pescoço para o transporte de utensílios pessoais.

O cangaço ocorreu em vários momentos da história nordestina. Primeiro com o valente José Gomes, de alcunha “Cabeleira”. Este aterrorizava as terras do Estado do Pernambuco, por volta de 1775. Anos depois, o cangaço foi protagonizado por Jesuíno Alves de Melo Calado, apelidado de “Jesuíno Brilhante”. Nasceu em 1844 e faleceu em 1879. Era natural do Estado do Rio Grande do Norte. Este saqueava os comboios do governo, roubava alimentos e distribuía entre a população pobre das redondezas. Depois foi a vez de Antônio Silvino. Nasceu em 1875 e faleceu em 1944. Tinha o apelido de “Rifle de Ouro”. Era pernambucano.

Iniciou-se o cangaço como volante. Em 1914. O mentor e líder era Sebastião Pereira da Silva, conhecido como Sinhô Pereira. Foi o comandante de Lampião. Nasceu em Serra Talhada-PE, a 20 de janeiro de 1896. Apelidado “Demônio do Sertão” pelos populares, por ser um rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes foi cercado pela polícia, e conseguia escapar. Era um homem do bem, embora justiceiro popular, pela via da violência. A época era assim, a justiça era feita pelas próprias mãos.

Era sobrinho neto do coronel Andrelino Pereira da Silva, o Barão do Pajeú, primeiro intendente (prefeito) da Vila Bela (Estado do Pernambuco). Também sobrinho do Padre Pereira e filho de Manuel Pereira da Silva. A tradicional família “Pereira”. A entrada do jovem Sebastião para o cangaço teve início em rixas e mortes entre “Os Pereiras” e “Os Carvalhos”. No livro “Sinhô Pereira: o comandante de Lampião”, de autoria de Nertan Macedo, publicado em 1980, a descrição:
- Manoel Pereira da Silva era irmão do Barão do Pajeú, e pai de outro Manoel – Manoel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira). Manoel (pai) sempre sonhou em ver o filho padre. Mandou-o, como era de uso no tempo, estudar no Seminário de Olinda. Manoel permaneceu algum tempo de batina, derramado sobre o seu latim, mas terminou voltando para o Sertão, sem ser ordenado. Restou a Manoel o apelido de Padre Pereira.

Padre Pereira era do bem, mas por assumir a liderança política “dos Pereiras” passou a ser o mais odiado “pelos Carvalhos” (família rival). Aos 72 anos de idade, foi vítima de uma emboscada e atingido por um tiro do jagunço Luís de França, a mando da família rival. Seu filho Luís Pereira da Silva Jacobina, apelidado Luís Padre, tinha 17 anos de idade na ocasião da morte do seu pai. A esposa do Padre Pereira, Dona Chiquinha, exigiu (por questão de honra) a vingança da morte do marido. Luís Padre muito novo, não estava preparado para a missão. Pediu ajuda ao primo Né Pereira (ou Né Dadu), irmão de Sinhô Pereira. Foram escolhidos Joaquim Nogueira de Carvalho e Eustáquio Bernardino de Carvalho para serem assassinados. Assim ocorreu.

Dias depois, Né Pereira foi assassinado “pelos Carvalhos”. Aí entra na história Sinhô Pereira, que se juntou ao primo Luís Padre, no desejo de vingar a morte do seu irmão e do seu tio. Logo os dois jovens (Luís Padre com 24 anos e Sinhô Pereira com 20 anos), mataram Luís de França, assassino de Padre Pereira. E com espírito de guerra, formaram um grupo de jagunços que passou a ser volante, andando com cangas para levar utensílios. Daí o apelido cangaceiros. Guerrearam por muitos anos.
Em 1918, Sinhô Pereira e Luís Padre resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido de Padre Cícero, enviado numa carta endereçada ao Sinhô Pereira, em que o sacerdote pedia que os primos deixassem a região, que vivia em clima de guerra e de medo. O sacerdote cearense ao receber a resposta favorável, enviou outra carta para Padre Castro, no município de Pedro II (Estado do Piauí), pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, para as terras do Barão de Santa Filomena (Estado do Piauí) e do Marquês de Paranaguá (Estado do Piauí). Mas os primos escolheram o Estado de Goiás. Do município de José do Belmonte-PE vieram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões-PI, a caminho de Pedro II-PI, foram perseguidos e mudaram de rumo. Por questões de estratégia militar se separaram. Montados a cavalos, acompanhados de seis cangaceiros.

Luís Padre ficou com dois cangaceiros e rumou Uruçuí-PI (hoje município). Já Sinhô Pereira ficou com quatro cangaceiros (“Cacheado”, “Coqueiro”, “Raimundo Morais” e “Gato”), rumou Corrente-PI. Passou por São Raimundo Nonato-PI e chegou a Caracol - PI. O próximo destino seria Parnaguá-PI. Mas foi cercado pela polícia do Piauí, em Caracol – PI. Isso em dezembro de 1918. A força policial era comandada pelo tenente Zeca Rubens. Um contingente de 20 soldados, e ainda mais de 40 populares. Sinhô Pereira, tido por alguns como “arquiduque do sertão”, e por outros o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas conseguiu escapar. Suas táticas de guerrilha funcionaram.

Retornou para sua terra (no Pernambuco). Desistiu da viagem para o Estado de Goiás. Alegava que eles teriam um longo trecho pelo Estado do Piauí até chegar o destino final.

Com pouca munição, com alguns dias de fome e de sede, era melhor retornar. Próximo a Remanso - BA encontraram abrigo, água e comida. Seguiu o futuro comandante de Lampião para sua terra. Chegou por lá em março de 1920. Em passagem por Serra Talhada-PE esteve com Lampião e seus irmãos Antônio e Livino. Mais tarde, outro irmão entrou para o cangaço: Ezequiel. Muitas ligações entre Lampião e Sinhô Pereira: eram vizinhos; a mãe de Lampião era afilhada do pai de Sinhô Pereira; o pai de Lampião era afilhado do Padre Pereira, tio de Sinhô Pereira; as famílias eram amigas; e com comuns inimigos: “Os Saturninos” e José Lucena.

Em Gilbués-PI (hoje município), vindo de Uruçuí-PI, Luís Padre soube do ataque ao primo. Mas seguiu pelo cerrado piauiense rumo ao Estado de Goiás. Passou em Santa Filomena-PI (hoje município). Já havia adotado um nome fajuto: José Piauí. Anos depois, já em Goiás, Luís Padre comunicou ao Sinhô Pereira o lugar onde estava. Seguro e sossegado. O cangaço na região Nordeste estava cada vez mais difícil. Sinhô Pereira resolveu ir onde estava seu primo, e comunicou ao grupo. Lampião disse que ficaria. Muitos cangaceiros ficaram com o futuro rei do cangaço, que assumiu o comando do grupo. Ao despedir-se de Lampião, disse-lhe: “Vou deixar umas brasas acesas por aí. Trate de apagá-las”.

Sinhô Pereira deixou o cangaço (definitivamente) a 08 de agosto de 1922, e foi para Minas Gerais. Anos depois se mudou para Goiás. Deu suas justificativas ao Nertan Macedo, autor do livro “Sinhô Pereira: o comandante de Lampião”, que esteve na sua casa em Minas Gerais, em 1975.

- Depois que houve outro combate na fazenda Tabuleiro, de Neco Alves, na Paraíba, fronteira com Pernambuco. De longe avistamos uns homens. Pensamos que fossem nossos companheiros. Lampião ia à frente, com Livino e “Meia Noite” (cangaceiro). Os soldados atiraram. Lampião perdeu o chapéu, ao pular para se livrar das balas. Ao voltar para apanhá-lo tomou dois tiros, um na virilha e outro acima do peito. Na hora ele saiu andando, mas não aguentou e caiu. Livino e “Meia Noite” (cangaceiro) o arrastaram até um lugar seguro. Mandei chamar o Dr. Mota, amigo da minha família, para examinar Lampião. Disse: “Nunca vi tanta sorte. Por um triz a bala pegava a bexiga e a espinha.” Fizemos um rancho, onde ficamos até Lampião poder andar. Depois do combate em que Lampião saiu ferido eu resolvi me retirar daquela vida. Saí mais por causa do reumatismo, que me atacava tanto. Tinha dia que eu não conseguia nem caminhar. Isso por causa das longas noites passadas ao relento, na friagem do sertão.

Décadas depois, Sinhô Pereira foi descoberto em Lagoa Grande, povoado de Presidente Olegário-MG, sendo dono de uma farmácia. Com nome fajuto de Chico Maranhão. O coronel Farnesi Dias Maciel foi quem deu abrigo e proteção ao ex-cangaceiro, naqueles confins de Minas Gerais. Era irmão do falecido Presidente Olegário (ex-governador mineiro), homenageado com o nome do município.

Maura Eustáquia de Oliveira escreve no Jornal “O Globo” sobre Sinhô Pereira, nos anos 70:
- De Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, até Lagoa Grande, no sertão de Minas Gerais, há mais de mil quilômetros de distância. Mas uma distância muito maior separa o cangaceiro Sebastião Pereira, que Serra Talhada temeu em torno de 1916, do farmacêutico Chico Maranhão, que Lagoa Grande respeita e venera desde 1923.

Sebastião Pereira, ou Sinhô Pereira como era conhecido no cangaço, é sobrinho do Barão do Pajeú, um dos mais influentes políticos pernambucanos do início do século. Aderiu ao cangaço para vingar a morte de um irmão na rixa entre as famílias do sertão e “para levar justiça a um povo que só conhecia a lei da força”. Um dia recebeu entre seus homens o jovem Virgulino Ferreira – que mais tarde seria o temido Lampião – a quem ensinou todos os segredos da guerrilha da caatinga e depois fez ele seu lugar-tenente. Quando resolveu abandonar a vida de cangaceiro, convidou seu compadre para sair junto. Mas Lampião preferiu a caatinga.

Ao escritor Nertan Macedo o ex-cangaceiro disse em 1975, ao recebê-lo em sua casa, sobre a vida no cangaço:
- Era um tempo ruim. Não tinha sossego. Era só desgraça, seca e miséria. Raro o dia, na caatinga, que podíamos nos dar ao luxo de uma xícara de café. Tinha vez de nós rompermos até 12 léguas (72 km) num dia. Um estirão danado. Nessas ocasiões, a gente mal parava pra comer e descansar. Travessias fortes, perambulando de um lado para outro. Enfrentava inimigos fortes e poderosos, ainda sofria dias e dias de fome e sede. Eis a vida no cangaço. Quase todos do grupo tinham menos de 25 anos (de idade)

Em 1920, mês de junho, Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, entra para o cangaço a convite de Sinhô Pereira. Foi seu comandante. Segundo ele próprio, sua entrada foi motivada pelo desejo de vingar a morte do seu pai. O líder Sinhô Pereira admirava-o pela sua valentia e por suas técnicas de guerras (era bom nisso). E Lampião, sempre que necessário, demonstrava idolatria ao comandante e até depois de sua saída fez tributo ao seu mestre, dizendo da sua admiração por ele. O mestre-comandante de Lampião, conta sua vida no livro “Sinhô Pereira: o comandante de Lampião”, de autoria de Nertan Macedo:
- Lampião era de uma família humilde. Ele nasceu a umas três léguas (18 km) de São Francisco, onde eu morava e seu pai fazia a feira e batizava os filhos. Conheci Lampião desde menino. Ele e seus irmãos eram independentes e muito trabalhadores. A questão dele foi de terra. Saturnino, pai de Zé Saturnino, queria tomar um pedaço de terra da fazenda Serra Vermelha, de Zé Ferreira, pai de Lampião. Houve uns tiros entre eles. Morreu um dos jagunços de Zé Saturnino, e Zé Ferreira saiu ferido. Aí “Os Ferreiras” se retiraram para Matinha de Água Branca, em Alagoas, onde ficaram sob a proteção do coronel Ulisses Lunas, em 1917. Eles estavam até destituídos de questão, quietos, trabalhando, quando em 1920 foram procurados por Antônio Matilde, casado com uma parenta deles, para juntos perseguirem Zé Saturnino. Antônio Matilde tinha um grupo de homens. Houve algumas lutas, morreu um sobrinho de Antônio Matilde e Casimiro Honório, tio de Zé Saturnino. Depois disso, Antônio Matilde desapareceu, deixando “Os Ferreiras” encrencados também com a polícia. Essa encrenca foi que provocou a morte de Zé Ferreira, pai de Lampião.

- Depois da morte de Casimiro Honório, o tenente José Lucena saiu em perseguição a Antônio Matilde. Soube que Zé Ferreira estava na casa de um “Fragoso”, foi lá e matou o velho. Antes havia matado Luís Fragoso, filho do dono da casa. Dona Maria José, mãe de Lampião, morreu 19 dias depois de desgosto. Depois da morte de Zé Ferreira, Lampião e irmãos juntaram-se com os irmãos Porcino, Antônio, Manuel e Pedro. Mas foi por poucos dias. Então, saíram atrás de José Lucena. Tiveram um encontro com um policial num lugar por nome Espírito Santo, fronteira de Pernambuco com Alagoas. Morreu gente de parte a parte. O cabo (policial) foi confundido com José Lucena e recebeu 12 tiros. A força (policial) era muito grande. Eles não eram nem a metade. Aí eles fugiram, achando que tinham matado José Lucena.

Pegando o gancho, farei aqui uma leitura do cangaço; numa visão social. Lampião fez história no cangaço tornando-se numa lenda. Seu nome está memorizado na memória coletiva e no panteão da imortalidade.

Segundo fontes bibliográficas, os três brasileiros mais biografados – todos com mais de 3000 livros escritos sobre eles - são: Padre Cícero, Lampião e Luiz Gonzaga. Todos nordestinos. Lampião, no caso aqui, foi a referência de mobilização para todos esses grandes líderes existentes da arena da justiça social. Certa vez, o então deputado federal Francisco Julião, representante das Ligas Camponesas e militante político pela reforma agrária, declarou: “Lampião foi o primeiro homem do Nordeste a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade”. Assim como muitos outros personagens da História, foi injustiçado pela visão elitista. Os fatos históricos perderam lugar para as lendas.

O fato, é que Lampião era um jovem normal e tranquilo que trabalhava para Delmiro Gouveia, grande empresário da época. Sua revolta deu início a partir do dia em que seu pai (José Ferreira) foi assassinado (em 1920) pelo sargento de polícia José Lucena, por causa de um litígio com o vizinho José Saturnino. Naquela época a honra andava lado a lado com a vingança. Recorrer a quem? À justiça dos homens, muitas vezes manipulada pelo próprio coronelismo político? Não existia democracia. Nem diplomacia. Agir pela via da violência não era um erro de causa, era o meio mais sensato para o fim da dignidade moral.

Lampião foi um idealista, um revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a injustiça do sertão nordestino. Um “Robin Hood”. Um justiceiro popular. Ele sempre foi um homem justo, que comungava de valores de respeito e de relacionamento social. Seu problema não era com o povo, nunca o perseguiu. E sim, com os coronéis rurais (posseiros das terras), líderes políticos e comerciantes que exploravam o povo com a carestia. Protestou contra todas as mazelas sociais existentes na região Nordeste. Ensinou o povo a se indignar, a mobilizar-se; ensinou-nos a importância da luta.

Sua imagem revolucionária começou a se desenhar em 1935, ainda vivo, quando a Aliança Nacional Libertadora – ANL citou-o como um de seus inspiradores políticos. Já nos anos 20 era a referência para essa linha de atuação pela justiça social. E provavelmente nos anos 10 o cangaço já representava o principal exemplo de mobilização social. Existiram erros de causa por parte do cangaço. Isso é inegável. Mas diante da grande obra da causa cívica e do mérito da história desses brasileiros cangaceiros, são insignificantes.

Sobre a referência social de Lampião, o historiador norte-americano Billy Jayner Chandler escreveu:
- Os ingleses vibram com os feitos de Robin Hood. Os norte-americanos contam as aventuras de Jesse James. Os mexicanos, as façanhas de Pancho Villa. E os brasileiros, as de Lampião.
O cangaço foi importante e notório na luta pela liberdade e dignidade do povo sertanejo do Brasil. Deu significativa contribuição para um país mais desenvolvido e menos desigual socialmente. Vamos nos situar na região.

Imagine a população sem renda que lhe oferecesse as mínimas condições de sobrevivência... Um povo que fazia parte apenas da estatística nacional brasileira como integrante da população. A exclusão social era total. Esses atores sociais foram ardentes defensores da causa da justiça, e os principais intérpretes das aspirações das massas. Foram líderes sociais. Heróis do povo brasileiro.
Marcos Oliveira Damasceno, 30 anos, escritor. Natural de Dom Inocêncio – PI. Doutorado em Filosofia Política. Diretor-Presidente da Produtora Sertão.