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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Na Monarquia, competência. Na República, incompetência

O Rei é um técnico, um “especialista” na arte da ciência de governar. Um Presidente é um improvisado, um “amador”.
 Pelo visto, Dona Dilma não conseguiu assimilar os ensinamentos da Rainha Elisabete II

Na superficialidade das ideias dominantes em que se arrasta a mentalidade contemporânea, é comum ouvir-se por aí dizer que a superioridade do regime republicano está em poder escolher-se o chefe mais competente, ao contrário da Monarquia, em que se é obrigado a aceitar um chefe determinado, pela fraca e inconcebível razão de ter nascido num berço real. Nesta ordem de ideias seria a República a forma de governo sempre competente e a Monarquia aquela em que, relegada para os acasos de um nascimento, a competência governativa não se verificaria senão com as mesmas probabilidades em que se ganha nos jogos de azar.

Ora, nós nos propomos demonstrar precisamente o contrário. E não há de parecer difícil a tarefa a quem reparar no papel que representa a incompetência na eleição de um presidente. Tem o eleitorado conhecimento suficiente da sua personalidade e da importância dos problemas, quer nacionais, quer internacionais, que o eleito é chamado a resolver? Tem o eleitorado cultura bastante para avaliar as superiores qualidades de caráter, de inteligência e de saber que o bem comum exige a quem vá dirigir o destinos nacionais? Possui o eleitorado o senso e a capacidade necessários para distinguir o aventureiro audaz e insinuante do homem de valor que, indiferente a exibicionismos, estuda e trabalha no isolamento do seu gabinete? Tem, numa palavra, o eleitorado competência para eleger o supremo Chefe? Evidente que não!

Quando o mais alto poder nasce de tal jogo de incompetências, quando a sua origem é a própria incompetência, como poderemos esperar que ele seja competente? Só o será por um mero acaso, mas não é em meros acasos que se pode fundar a ciência política.

Estar apto a desempenhar uma missão pressupõe uma preparação especial. A competência, em qualquer ramo de atividade, adquire-se mediante educação apropriada, estudo especializado e prática. Estas condições indispensáveis de competência faltam, como é evidente, a um Presidente eleito. Pode, é verdade, um espírito privilegiado suprir em grande parte essa falta, mas a hipótese é extremamente excepcional. Na vida de uma República a regra consiste em colocar-se na presidência um indivíduo que pode ter tudo menos a preparação necessária e indispensável para o desempenho desse lugar e em apeá-lo quando, pela prática adquirida nas suas funções, poderiam despontar nele os primeiros indícios de competência.

Numa República, o mais alto cargo é colocado nas mãos de quem não possui preparação alguma para o desempenhar. Em outras palavras, confia-se descuidadamente nos favores do acaso entregando o governo a qualquer improvisado governante, que por acaso venceu as eleições.

Não se permite que advogue a quem não possui o curso de uma Faculdade de Direito; que clinique a quem não for graduado em Medicina; não se dão os galões de oficial a quem não tiver passado pela Academia Militar. Para o exercício de qualquer profissão, cada vez se exige mais um diploma comprovativo das indispensáveis habilitações, garantindo desta forma a competência na atividade a que cada um se dedica. Por que estranha razão é que só para o lugar mais importante do qual todos os outros dependem, para o dirigente dos complexos negócios do Estado, para o supremo comando de uma Nação, que tanto pode levar à ruína como ao esplendor de um povo, não se exige mais do que saber ler e escrever?

Não é por acaso que se denomina “ofício de reinar” a ocupação de um Rei. Ofício quer dizeraprendizagem prática de uma profissão. Ofício subentende e implica competência. Ora, um Rei recebe, enquanto Príncipe, uma educação especializada tendente a fazer dele um futuro governante. A necessária prática, ele a vai adquirindo paralelamente, no íntimo convívio com seu pai, que se torna o seu melhor professor. Ele não esquece a lição dos fatos, porque estes fazem parte das apreensões, das alegrias e das tristezas da sua vida de família. Quando um dia chega a hora de reinar, ele sobe confiadamente os degraus do trono, porque para isso estudou uma vida inteira e a coroa que o cinge não o distingue mais do que a competência de que é possuidor para cumprir a missão que o destino lhe marcou.

Acima, trechos do livro:  “Claro dilema: Monarquia ou República?” (Lisboa, Edições Gama, 1944, PP. 132-135), obra do notável médico, historiador e cientista político Dr. Mário Saraiva (1910-1998).

Um comentário:

  1. A honradez e honestidade da monarquia contrasta com a falta de vergonha e pudor da Republica, em especial a brasileira.

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