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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 28 de outubro de 2017

Crato Republicano? Algumas Considerações… (por Armando Lopes Rafael)

(Excertos de um artigo publicado há 17 anos na revista A Província – nº 18, ano 2000) 
   O “ôba-ôba” tão característico destes tempos medíocres, quando a maioria das pessoas não tem profundidade em nenhum assunto; quando a televisão “faz a cabeça” da massa ignara; nos obriga a ouvir, vez por outra, falar sobre a “tradição republicana” de Crato. Não existe essa alardeada “tradição republicana em Crato”. É mera falácia!

   O leitor me conceda só um tempinho, para eu justificar o meu pensamento. Começo por lembrar que o aniversário do golpe militar que implantou a República – em 15 de novembro de 1889 – nunca foi comemorado em Crato. Nesta cidade o povo comemora muitas datas: 7 de setembro, 21 de Junho, 1º de setembro (Nossa Senhora da Penha), 19 de março (São José) festeja as datas de São Francisco, dentre outras. Agora, “comemoração” no dia 15 de Novembro – data da “Proclamação da República” – nunca se viu.

     E por que isso acontece? Ora, o  Crato, durante 149 anos (de 1740 quando foi fundado,  a 1889, quando houve o golpe militar que empurrou goela abaixo da população a forma de governo republicana) viveu sob a Monarquia. Não se apaga facilmente um século e meio na vida de um povo. Basta dizer que dos 70 anos que o comunismo dominou a Rússia com chicote e baioneta não restou nada de concreto. Imagine 149 anos. Por isso, no imaginário popular,  persiste a ideia de que a Monarquia é algo de elevado nível, respeitoso, honesto e bom.

     Tanto isso é verdade que, ainda hoje, quando o povo reconhece numa pessoa certos méritos ou qualidades acima do comum, costuma dar-lhe o título de “Rei”. Por isso temos ou tivemos; “O Rei Pelé”, “O Rei Roberto Carlos”, “O Rei do Baião”, “O Príncipe dos Poetas Populares” (o repentista Pedro Bandeira) etc. E o que dizer dos concursos que se realizam para escolha da “Rainha do Colégio”, “Rainha da Exposição”? e de nomes de lojas como “O Rei da Feijoada”, “O Império das Tintas”? Ou nomes como “Rádio Princesa FM”, “Colégio Pequeno Príncipe”?

     Portanto, é um mito sem consistência essa alardeada “tradição republicana” de Crato. Precisamos ter coragem para proclamar isto, pois ela não reflete a realidade. Ainda não se conseguiu sensibilizar as camadas populares para comemorar, em Crato, o golpe militar que impôs no Brasil essa fracassada República. Sempre foi assim. Vai ser assim, também, no próximo dia 15 de novembro, quando o país vai parar – num feriado nacional artificial e inútil – em comemoração à pseudo “Proclamação da República”.

      No duro – no duro mesmo – “República” para o povo é sinônimo de "república de estudante", ou seja, uma casa bagunçada, desorganizada.  Ou serve para lembrar as notícias que vêm da Capital da República, a triste Brasília, Capital Mundial da Corrupção.  “República” continua a ser, no imaginário popular, a lembrança da roubalheira, das propinas pagas aos políticos, da incompetência, da demagogia, da falta de segurança, da falência da saúde pública, da precariedade da educação pública, das filas dos aposentados (expostos ao sol e à chuva) na fila das calçadas dos Bancos para receber suas míseras aposentadorias, das obras públicas inacabadas, da falta de respeito para com a população, do grosso do noticiário que chega pela televisão aos nossos lares: "Mensalão", "Petrolão", Lava Jato, Delação Premiada, malas com milhões encontradas em apartamento...


Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

3 comentários:

  1. Sabe o que “Res-publica” significa? Pois fique sabendo: Coisa Pública. É prá rir ou prá chorar?
    Não foi isso (transparência da coisa pública) que o regime republicano trouxe para o Brasil. Faz 128 anos que a República nos foi imposta através de um golpe militar. Digamos que nestes 128 anos, como se estivéssemos num laboratório, pudemos coletar dados suficientes para uma análise acurada das instituições republicanas.
    Será que após 128 já somos capazes de responder a questão: A República funcionou? Não. Ela é igual a “cantiga da perua”. De pior a pior... Bem, parece que o teste do tempo e a análise histórica nos permitem responder com segurança que a República fracassou vergonhosamente em todos os níveis de análise.
    O povo não confia mais nas instituições, nos políticos e nos poderes constituídos. É a ré-pública nossa de cada dia. O resto é conversa para boi dormir.

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  2. Uma postagem memorável, especialmente para esses que nada conhecem da historia e não procuram saber. Parabéns.

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  3. O historiador cratense Armando Lopes Rafael interpreta, sem tirar nem por, o meu pensamento acerca dessa já prolongada farsa da República Federativa do Brasil, que começou como República dos Estados Unidos do Brasil. Já no nascedouro, manifestava subserviência aos irmãos do Norte. Eles, os norte-americanos se independeram da Inglaterra, ali a monarquia continua sendo a forma de governo. Se é ruim ou danosa para o povo, por que não tentaram, ainda, acabar com ela?

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