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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Há 96 anos falecia a Princesa Isabel – por Emanuel Bugarin.

A Princesa Isabel e seu esposo, o Conde D'Eu, na velhice de ambos

   A Princesa Isabel (Imperatriz do Brasil no exílio) faleceu serenamente, há exatos 96 anos, no Castelo D’Eu, na França, em 14/11/1921. Transcrevemos o Editorial em homenagem à morte da Estadista Brasileira, Princesa Isabel publicada na revista Revista “A Cigarra”, São Paulo, 01/12/1921.

   “A morte da Princesa Isabel, ocorrida em Paris, no dia 14 de novembro, encheu de uma mágoa profunda e sincera o coração de todos aqueles que, nesta terra onde a ingratidão é corrente e onde a injustiça é cultuada, desprezam o nosso passado e os grandes vultos de nossa história. Preferíamos dizer que essa morte encheu de mágoa de mágoa todos os corações, mas não o dizemos por que uma afirmação dessas não traduziria, na sua latitude, a verdade.

   Quando o Sr. Epitácio Pessoa, no mais belo e patriótico de seus gestos, promoveu a trasladação para o Brasil dos despojos mortais dos imperadores, houve vozes que protestaram. Não se cuide que esses protestos partiram de indivíduos sem nome e sem responsabilidade. O Sr. Lopes Trovão, um dos últimos republicanos históricos que ainda existem e que foi um dos mais ardentes propagandistas da República, traduzindo a opinião de muita gente, insurgiu-se contra o gesto do Sr. Epitácio Pessoa, afirmando que, num regime democrático como o nosso, o esforço coletivo dos republicanos deve convergir para que se apague de todo a memória do antigo regime.

   Para ele, pois o repouso dos venerados monarcas sob a terra da Pátria, avivando a memória, constitui uma ameaça permanente á estabilidade do regime que ele preparou e do qual, parece, não se desiludiu. Esta opinião, externada pelo Sr. Lopes Trovão a um jornalista que entrevistou acerca do translado dos despojos, é, em que pese ás pessoas justas e sensatas, a opinião de muita gente. Como se vê, a ingratidão, em nosso país, chega a roçar a incoerência e tem qualquer coisa de desvariada.

A Princesa Isabel não é apenas aquela figura meiga para o qual todos os bons volvem os olhos enternecidos, ela é uma das figuras mais radiantes da nossa história. Foi ela quem, como seu gesto, em que havia doçura e violência e em que a bondade e o heroísmo se misturavam, foi ela quem, fechando os ouvidos ao clamor indignado dos poderosos de então e resistindo a todas as seduções com que tentaram corrompê-la, marcou as duas datas mais gloriosas da nossa nacionalidade, assinando a Lei de 28 de setembro de 1871 e a Lei Áurea de 13 de maio de 1888.

   Pela primeira vez tornou livre o ventre das escravas e pela segunda baniu de uma vez a escravidão. Ao assinar a primeira lei, sabia ela que ia ser o alvo do ódio das classes poderosas e arrastou corajosamente as mais tremendas calúnias, sem chamar á conta os seus caluniadores; ao assinar à segunda, sabia bem que ia abalar o trono em seus alicerces e promover a sua ruína, mas não vacilou. O seu apostolado antolhos sê-lhe maior que as venturas que lhe prometia o poder. Esses dois atos da excelsa Princesa foram atos de divina renúncia, tão grandes como os maiores que se apontam no hagiológio cristão.

   Entretanto, um vulto desses não tem, em nossa capital, uma rua que lhe recorde o nome. Os republicanos apagaram-lhe o nome das ruas centrais e substituíram-no por outro que eles acham mais glorioso ou mais representativo de nossos valores... A santa senhora morreu aos 75 anos. Sua vida foi cortada de inúmeros sofrimentos, suportamos com a mais profunda resignação, agravados ainda pela morte dos filhos, Príncipe Dom. Antônio, durante a grande guerra, num desastre de avião, e pela morte do Príncipe Dom Luiz, proveniente de uma moléstia adquirida nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, onde, como se sabe, se bateu com notável bravura.”.
Abaixo, lembrança distribuída na missa de 7º dia
do falecimento da Princesa Isabel
 

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