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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Rainha da Literatura Cearense: Rachel de Queiroz – por José Luís Lira (*)


Dom Bertrand de Orleans e Bragança, príncipe imperial do Brasil, afirma que a índole do povo brasileiro é monarquista. Por isso uso o termo “rainha” da literatura cearense para traduzir o que foi a escritora Rachel de Queiroz. Não teria outra. Ela foi a que melhor traduziu em romance e crônica a alma cearense. Lembro-me de ter ouvido dela própria sobre ser cearense: “é um privilégio que eu não especifico para não fazer inveja aos que não gozam dessa felicidade”.

No último dia 4, lembramos os 14 anos de seu falecimento. Difícil para nós que a conhecemos e com ela convivemos. Para muitos, uma data histórica. Alguns até nem sabem que ela faleceu. Vez por outra me perguntam se ela mora em Quixadá ou no Rio. Fazer o quê?

No próximo dia 17, Rachel faria 107 anos. Quando de sua morte, em 2003, foi proposto na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará projeto de lei instituindo o Dia da Literatura Cearense em homenagem a Rachel. O projeto foi aprovado e deu origem à Lei Nº 13.411, de 15/12/2003 (D.O 17/12/2003), criando, oficialmente, o “Dia da Literatura Cearense”, a ser comemorado no dia 17 de novembro de cada ano. Nada mais justo. Ela viveu e amou o Ceará. Era um amor tão grande que estando em Berlim Ocidental, em dezembro de 1993, Rachel afirmou que encontrou “a caatinga nordestina em réplica, como gêmeos univitelinos”.

Seu apartamento no Leblon era como se fosse território cearense. Na área mais privilegiada do Rio de Janeiro, era cheio de móveis e recordações cearenses e até uma imagem do Pe. Cícero, que ela conheceu e acreditava ser santo. Aliás, a questão de fé sempre foi um desafio para ela, mas, ela nunca escreveu uma linha criticando qualquer tipo de religião. Pelo contrário, uma das crônicas mais belas que li sobre São Vicente de Paulo é de autoria dela. Ela também escreveu sobre Padre Cícero, Dom Helder, Irmã Simas, São João Paulo II e outras figuras do mundo eclesiástico.

Sem nenhum exagero, ainda é difícil escrever ou falar sobre ela. Este ano, no mesmo dia do mês em que faleceu, 4 de novembro, Rachel fez 40 anos de imortalidade literária na Academia Brasileira de Letras. Foi ela a primeira mulher a ingressar no sodalício. Também foi a primeira cearense a se candidatar a deputada, enfim. Sempre que falarmos em direitos da mulher no Brasil, por justiça, seu nome deve ser citado como mulher forte, determinada e culta.

Incentivado pela magnífica reitora da Universidade de Fortaleza, Profª. Drª. Fátima Veras, incursionei em relançar em edição especial o ensaio biográfico que fiz sobre Rachel, lançado poucos meses antes da morte da escritora. Atualizei e acresci dados e revivi aqueles dias de emoção. A UNIFOR, universidade onde me formei em Direito, preparou uma bela edição. Em breve, o lançaremos ainda nas homenagens aos 40 anos de imortalidade da grande dama da literatura brasileira e rainha da literatura cearense, tão presente em minha vida.

Desde o nascimento de Rachel em Fortaleza, seu batizado em Pacatuba, à seca d’O Quinze, que já mocinha colocou os dramas da seca como moldura de um romance, passando pela jornalista, cronista e escritora sábia que coroou sua carreira com o majestoso “Memorial de Maria Moura”, focalizamos neste trabalho e cremos não ser suficiente para realçar seu nome em nossa história e literatura! Salve Rachel!

(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acarau–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com vários livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras. Colabora com Blog de Antônio Morais.

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