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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Patrimônio Religioso de Crato I: Memória do 1º Reitor do Seminário São José (por Armando Lopes Rafael)

Padre Lourenço Vicente Enrile - foto tirada do "Album do Seminário do Crato", editado em 1925

   O dia era 13 de novembro de 1876. Na Vila Real do Crato – na Rua das Flores, em casa do farmacêutico prático Secundo Chaves, localizada próximo a onde hoje funciona a Cúria Diocesana, na Rua Teófilo Siqueira – um sacerdote de 43 anos, com o organismo minado pela tuberculose, sentia que sua existência terrena chegava ao fim. Em meio à febre, acessos constantes de tosse e hemoptise, o Padre Lourenço Vicente Enrile – primeiro reitor do Seminário São José – rendeu sua bela alma a Deus, nos braços do farmacêutico e seu benfeitor.

    Dias antes, Secundo Chaves, após muita insistência, conseguiu que o Padre Lourenço Enrile deixasse o prédio do Seminário e viesse para sua residência, onde teria mais conforto no tratamento da pertinaz moléstia. Debalde foram os esforços do farmacêutico. O Crato perdeu, naquele dia, um dos mais virtuosos sacerdotes que já passaram por esta cidade.

    Padre Enrile nasceu em Finalborgo, diocese de Savóia, na Itália em 28 de fevereiro de 1833. Cento e trinta e cinco anos depois da chegada do Frei Carlos Maria de Ferrara – fundador de Crato – a Itália nos mandara outro valoroso missionário. Padre Enrile chegou ao Cariri em 1875, para colocar em funcionamento o Seminário São José. Aqui viveu menos de dois anos, tempo suficiente para alcançar – junto à sociedade cratense – o conceito de um sacerdote digno, piedoso e exemplar.

     Segundo o “Álbum do Seminário de Crato”, editado em 1925:
   “Não se limitava a ação do primeiro reitor em guiar os destinos da casa, da posição em que o colocara o Sr. Bispo, mas entregava-se a todos os misteres. Desde a sala de aulas até a cozinha, sua atividade se desenvolvia a contento de todos os que habitavam o Seminário.
   “Trabalhava sem tréguas, durante o dia, e, à noite quando todos dormiam, ainda vigiando, percorria o dormitório e mais compartimentos da casa, não deixando de consagrar algum tempo ao estudo.
   “Os primeiros albores da madrugada, como determinavam as regras da Congregação, já o encontravam no cumprimento do dever.
   “Padre Enrile era um modelo de sacerdote católico, que reunia aos vastos conhecimentos de que era possuidor uma piedade sólida, haurida em Paris na Casa Mãe dos Lazaristas. Manejava a língua portuguesa com rara facilidade, de modo que prendia a atenção de todos quando proferia seus memoráveis sermões. À capela do Seminário, em meio de grande massa popular, afluía, ainda, o que o Crato tinha de intelectual naquele tempo, para ouvir a palavra fácil e erudita do Padre Enrile.
   “Em todos os misteres do sacerdócio, era o Padre Enrile exato e admirável. Edificava o povo, quando após os trabalhos do Seminário, saía em busca dos moribundos levando-lhes o pão dos anjos e o conforto de sua palavra cheia de unção.

É ainda o “Álbum do Seminário de Crato” que informa:
    “Quando do seu falecimento, a população em peso acorreu ao Seminário e de todos os olhos caiam lágrimas a fio, e todos os lábios ciciavam preces pelo repouso da alma do prateado morto”.
    Os veneráveis restos mortais do Padre Enrile encontram-se sepultados numa das colunas da capela do Seminário São José. Conforme o “Álbum do Seminário de Crato”: “Jamais se assistira (até aquela data) em Crato a enterro tão concorrido e a morte tão chorada”...
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

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