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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Lindemberg partiu – por Armando Lopes Rafael


  Ah! As coisas de Deus. João Lindemberg de Aquino deixou este mundo à noitinha de um domingo, Dia do Senhor, 7 de janeiro de 2018. Depois da meia-noite caiu uma chuva calma, tranquila, mas “molhadeira”, sobre esta cidade de Crato e arredores. Parecia o augúrio de um dia que nasceria abençoado.

   Lindemberg foi velado e sepultado numa segunda-feira, dia da tradicional feira semanal de Crato. Uma atividade econômica essencialmente urbana, a qual, anos atrás, se esparramava pelas ruas do centro citadino, parecendo até uma festa. Era afamada, a antiga “Feira do Crato”! Reunia uma multidão, onde os pequenos produtores rurais e modestos comerciantes ofereciam suas mercadorias, a céu aberto. Era uma mistura de burburinho e interação social. Tudo feito de forma harmônica, num tempo que não conhecíamos a desagregação e a decadência da sociedade atual.

    Quantas vezes, Lindemberg – quando criança, adolescente ou adulto –  contemplou as feiras de Crato. Antigamente, nas segundas-feiras, nesta Mui Nobre e Heráldica Cidade de Frei Carlos, esse dia amanhecia prenunciando alegria. A cidade virava uma verdadeira praça de mercado. Raízes e ervas eram vendidas como “santo remédio”; Violeiros faziam seus repentes como se fossem trovadores medievais; Cegos pediam “uma esmolinha pelo Amor de Deus” tocando rabecas; Jovens falantes liam versos de cordel, com destaque para “O Pavão Misterioso”, “A chegada de Lampião no inferno”, “Improvisos do Cego Aderaldo”...

      Bons tempos, aqueles do Crato de outrora!
      Pois foi a esse Crato (que não existe mais) que Lindemberg dedicou a força da sua juventude e a sabedoria da sua maturidade. Amou esta cidade como poucos a amaram. Tinha uma mania: denominar oficialmente as ruas de Crato. Penso que oitenta por cento das nossas ruas receberam um patrono oficial, graças ao decreto feito por Lindemberg e entregue a um vereador. Este último ganhava o mérito da proposição aprovada pela Câmara Municipal.

         Estive bem cedinho ante o féretro de Lindemberg. Rezei pelo descanso eterno da sua alma. Pessoas que não creem (os ateus, sempre exibicionistas) dirão que não há nada depois da morte. Geralmente o ateu tem todas as objeções, que se possa imaginar, sobre a espiritualidade. É comum essas “sapiências” arrotarem do alto da sua empáfia:  "Não há nada fora das ciências físicas".

           Humildemente, creio na vida eterna. Penso que os últimos anos de ostracismo e enfermidades que Lindemberg sofreu, sendo assistido (e muito bem assistido) apenas por sua amorosa família contribuíram para que ele, ao transpor os umbrais insondáveis da eternidade, sentisse de Deus misericordioso aquilo o que nos ensina o livro do Apocalipse, 21, 4: "Ele enxugará toda a lágrima de seus olhos: já não haverá morte porque o mundo velho passou".
             Descanse em paz, Lindemberg!

COMENTÁRIOS
Carlos Rafael Dias escreveu:
Armando: Bela e merecida homenagem!

André Herzog escreveu:
Sinto Muito Armando.
Que linda homenagem, que só poucos como você saberiam fazer. 
Que a alma de Lindemberg tenha descanso e seja bem acolhida...
Renato Casimiro escreveu:
Meu caro Armando,
Somente hoje pelas 11h numa ag. do BB alguém me falou da morte de Lindemberg.
Há pouco li com atenção seu texto e me enchi de emoção porque não só o texto resgata
parte da omissão de tantos, incluso estou, mas porque suas imagens, líricas e tão sinceras nos permite vê-lo noutra dimensão, como um desses cratenses ilustrados que tanto fizeram por sua terra.
Também me reuno às suas preces por seu repouso, pois de há muito se dizia, do tempo do Lindemberg, da sua ausência sempre sentida, e da falta que fazia a esses novos tempos em que o Crato sempre reclama por alguém que levante sua autoestima. Enfim, já estávamos sem ele, lamentando sempre as poucas notícias, especialmente para falar de uma certa morte anunciada.
Um grande abraço,
Renato Casimiro
 
José Peixoto Jr. escreveu:
Lamentei o adoecer de Lindemberg. Visitava-o, quando sadio, sempre que passava na cidade.
São intervenções como essa sua que perpetuam nomes. 
Ele foi o Ibraim Sued do Cariri.
Significativa a sua intervenção.
Um abraço. Peixoto


Vicente Madeira escreveu:
Armando, meu irmão
Lindenberg foi um ícone de nosso Crato.
Deus o tenha. Que ele continue a ajudar a terra de Dona Bárbara.
Um abraço de
Vicente

Um comentário:

  1. Perdemos um bom amigo, homem culto, humilde, de brandura impar. Aos familiares os mais sinceros sentimentos e votos de pesar.

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