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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 18 de maio de 2018

Dirceu atual faz do Dirceu de 1968 uma alegoria - Por Josias de Souza.


Em outubro de 1968, quando foi preso pelas forças da ditadura, José Dirceu, tenros 22 anos, era um mito estudantil, um projeto de estátua de bronze. Decorridas cinco décadas, Dirceu, agora com 72 anos, retorna à gaiola, em plena democracia, como uma espécie de pardal de si mesmo. Com desenvoltura dialética, o ex-mito suja a testa de bronze da estátua que não conseguiu ser.

Dirceu revelou-se um idealista que ainda não tinha chegado à chave do cofre. Queria reformar um sítio em Vinhedo, não o Brasil. Toda aquela vontade de sacrificar-se pela causa, todo aquele desejo de servir à classe trabalhadora, tudo aquilo era impulsionado pelo dinheiro. Dirceu abandonou a ideologia para cair na vida. Aviltou os fins para se apropriar dos meio$.

Até o escândalo do mensalão, Dirceu ainda conseguiu manter as aparências. Punho esguerdo erguido, foi preso e recolhido à Papuda imaginando-se beneficiário da atenuante de não ter agido em proveito próprio. No petrolão, restou demostrado que evoluiu definitivamente do socialismo de resultados para a apropriação pessoal. Na condenação mais recente de Dirceu, confirmada pelo TRF-4, Sergio Moro escreveu:

“O mais perturbador em relação a José Dirceu de Oliveira e Silva consiste no fato de que praticou o crime inclusive enquanto estava sendo processado e julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470 [mensalão], havendo registro de recebimento de propina, no presente caso, até pelo menos 23/07/2012. Nem o processo e o julgamento pela mais Alta Corte do País representou fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito. Agiu, portanto, com culpabilidade extremada…”

A primeira prisão de Dirceu, aquela de 1968, ocorreu num sítio em Ibiúna (SP), durante o célebre congresso estudantil. Oito líderes foram levados ao Forte Itaipu, em Santos. Beneficiados por habeas corpus, quatro saíram. O resto ficou no xilindró. Entre eles, Dirceu. Foram libertados em 7 de setembro de 1969, junto com um grupo de políticos, trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick.

O projeto de estátua voou para Cuba. Recebeu-o Fidel Castro em pessoa. Abrigou-se na ''casa dos 28'', ninho de treinamento de guerrilha. Entrou no Brasil em 1971, como integrante do Molipo (Movimento de Libertação Popular). Voltou a Cuba no mesmo ano, fez plástica no rosto com médicos chineses. Em 1975, retornou ao Brasil.

Vivendo clandestinamente em Cruzeiro do Oeste (PR), sob falsa identidade, na pele de dono de alfaiataria, casou-se com uma dona de butique. Teve um filho. Só emergiu depois da anistia, com o rosto reconstituído por nova plástica cubana. Elegeu-se deputado estadual e federal. Apossou-se da máquina do PT. Ajudou a fazer de Lula presidente. Virou um poderoso chefão da Casa Civil. Chegou ao cofre.

Hoje, o Dirceu do petrolão, reincidente do mensalão, empurra o Dirceu de Ibiúna para uma espécie de clandestinidade eterna. O corrupto que vai preso neste maio de 2018 faz do mito estudantil que foi detido em 1968 uma alegoria. Dirceu deve puxar uma cana longa. Sem um embaixador americano para servir de moeda de troca, terá de rezar para que o Supremo volte atrás na jurisprudência que permitiu a prisão de condenados na segunda instância. Quando sair, já não verá o sitio de Vinhedo. A propriedade vai ao martelo junto com outros imóveis. Coisa de R$ 11 milhões.

Um comentário:

  1. A única coisa de 1968 que se iguala a hoje é a má índole, o mau caráter. Bandido naquele tempo e bandido agora.

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